Para sempre
Transporto as horas sob um véu de estrelas
Os meus passos correm sobre dunas
E o veneno das sílabas fala-me de sustos e de memórias
Não foi assim há tanto tempo que as palavras eram outras
Que as horas não se distanciavam dos rios e das praias
Mas também eu era um outro
Era um medo...um verso...uma forma de dizer
Agora...longínquos sóis invadem o meu torpor
A minha voz já não é um fogo rente à tua face
E o meu coração já esqueceu o caminho suave das maresias
Em meu redor há pássaros
Que se insinuam na longevidade dos dias
Há uma lúcida amnésia de florestas e castanheiros
Há uma espessura que me aflora
Como uma fuligem que os ventos arrastam
E eu...escuto os sinos...os passos
O eco das grutas onde escondemos a lua
Não há lugares de sempre
Não há ruas sem fim
Há apenas recomeços
Por um instante...
Pensei que havia uma chama eterna
Um passado...um agosto único
Mas há uma surpresa...
Uma violência em cada sílaba..um nascer de novo
Onde fica o Destino quando a luz se apaga?
Onde mora o eterno fluxo dos olhares?
Disseram-me que se respirasse fundo
O mar não se cansaria de mim
Que os peixes seriam os meus marítimos guias
E a voz estonteante das gaivotas
Diria os poemas que perdi no horizonte
Mas o sol é dourado e eu deixo-me ofuscar
Traço riscos sobre folhas amarelecidas
Esculpo palavras no âmbar da noite
E para meu consolo...
Plantaram árvores no mesmo lugar onde estivemos
Agora já só me falta...
Desenhar nos seus troncos o teu nome
Para sempre...