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folhasdeluar

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O vale de descontos Pingo Doce

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Não tenho por hábito comprar no Pingo Doce, mas como abriu uma loja perto de onde vivo lá fui.

Na primeira vez deram-me logo este vale de 5€. Li o que dizia e interpretei (que fazendo uma compra de 15€ podia descontar o vale), ou seja, que me obrigavam a gastar 15€ para ter os 5€ de desconto.

Quando precisei lá fui, ( ainda dentro do prazo), fiz as compras que totalizavam 35€ e entreguei o vale.

Aqui comecei logo a ficar com comichões, o vale não abatia, o vale não estava a funcionar. A funcionária da caixa também ficou admirada e chamou uma colega para a ajudar.

E veio a resposta, para ter acesso aos 5€, tinha que gastar pelo menos 15€ em compras à minha escolha e mais,(pelo menos) 5€ em peixe fresco, o que quer dizer que o vale só funcionava com peixe fresco.

Podiam ter-me oferecido o vale para gastar em peixe fresco, que era essa a finalidade, mas não, tinha que gastar ainda mais 15€ para obter o prémio.

Senti-me enganado. Senti que me estavam a tratar como um mentecapto, que não percebia o que estava escondido por detrás do vale.

É claro que aqui não é relevante a quantia, é a forma encapotada da actuação do Pingo Doce.

Não gostei...e as compras ficaram lá.

Trouxe comigo o vale que deu para fazer este post.

Não se deixem enganar e....boas compras...seja em que supermercado for.

Como se não fôssemos ninguém

É tão curta a distância entre um gesto e um beijo

Entre o estar e a ausência

Será que nos perdemos quando rasgámos a fotografia esquecida?

Será que do nosso vazio inventaram flores vermelhas?

E que do nosso sangue despontaram sátiros?

Onde começaremos?

Onde estaremos no fim despropositado dos dias?

Ardem-me os olhos e as palavras

Um pássaro voa pela toalha da mesa

Restos de açúcar...

São minúsculos despojos de esquecimento

Bebo a imagem vertiginosa do caos

Sulco de sangue na bruma da tarde

Os pássaros espalham versos pelo entardecer

As paredes esvaziaram-se na hipocondria dos dias

E a espuma dos barcos traça uma recta

Irregular imagem de partidas

Na ausência das paredes

As fotos falam estranhas línguas

Límpidas...as dúvidas..

São sirenes de navios a avisar o vazio de nós

Penso que a noite é cega

Que é como um além que nos separa

Por dentro da vidraça o medo acumula-se

A rua despede-se dos nossos passos empedrados

Enquanto nos jardins..os insectos colhem mel

E a melancolia invade os poros das flores

E nós..aqui estamos

Como se não fôssemos ninguém....

 

Luz do amor

Luz de esperança...amor tranquilo

Lisa luz que tudo ilumina

Nada me toca mais que aquele momento fundo

Em que o céu floresce em nós

Como se soubesse que tudo é um precioso engano.

 

E se eu me for? E se tu te fores?

Intangível e breve momento de nada

Sinal de campo quebrado e musgo profundo

Esquelético engano de dar e receber

Possuir e não ter...ter e não possuir.

 

Não temos como saber o comprimento dos dias

Apenas sabemos que nos esperamos

Como duas árvores que amadurecem

Na translúcida tarde marinha.

 

Apenas espero de ti a inundação

Como tu esperas de mim tudo o que não quero ver

Como se fôssemos o princípio do amor

Amortalhado numa eterna ausência pura

E sempre presente.

 

Para a I....

Como um pensamento

Caminhei nessas trevas cobertas de pétalas

Nessa noite em que o vazio

Foi expulso pela espargia da manhã

Gravaste em mim o precipício...as palavras fugazes

O leme violento da aurora

Por quem dobram os sinos nessa repetição sonolenta dos dias?

Que céus se encolhem no sono inacabado dos anjos?

E as cidades...e o verão...

E os exércitos de cordas vocais a entoarem hinos absurdos

Onde despertaremos um dia meu amor?

Onde deixaremos o brilho plástico das águas?

Para onde fugiremos?

Uma vez dediquei um poema inteiro ao brilho dos teus olhos

As minhas mãos puxaram até mim as palavras que os lábios calavam

E foi como se uma vela se incendiasse

No gelo nocturno do meu peito

Ah e as calamidades? E as extinções?

E o fulcral aperto dos lugares vazios?

Sairemos como vencedores deste jogo aflito de palavras?

Ou a escravidão heróica dos dias submeter-nos-á ao silêncio?

Já não me lembro do tempo

Em que as harpias pediam perdão aos homens

Desse tempo em que o sangue

Circulava ininterruptamente pelos becos

Inundando a vida com as suas pulsações inebriadas

Caminhando pela palidez dos portos

Infiltrando-se na maresia açucarada dos corpos

Ai meu amor...limitamo-nos a estar vivos

A sorrir...a procurar o amparo das mãos

Como turvas excrescências

Evoluindo debaixo de um céu absorto

A pedirmos rendição...calados...sussurrantes

A invadir as flores com pólens de felicidade

Em que lugar encontraremos essa luz que apaga as cidades?

Essa luz avassaladora que corre sem destino nem amparo

Como um véu...como um verão...como um pensamento...

Chegará o silêncio

Vi um tempo amargo em cada esquina

Um reluzir de sinais a engendrar vazios

Conheço os tempos insaciáveis

As rimas dos exilados e as serpentes

Agarro-me às luminosas paisagens

De repente parece que as minhas chamas se apagam

As utopias que arderam num torvelinho

São apenas esqueletos de ideais

Procuro a lógica da harmonia

O caos do corpo...o desapego das solidões

Que eu me arraste

Que eu beba as inversões das fotografias

Que torça as rimas

E que a semântica se evapore

Das águas nascerão as mãos convulsas

A delicadeza das falas maternas

E do agitar das ruínas

Nascerão vagas ferrugentas

Blocos de pedra em decomposição

É possível que algum dia as sombras se dilatem

Que as Hidras se afoguem

E que o Oráculos de Delfos se engane

Chegará o silêncio

As folhas tecerão tapetes dourados

E uma rosa será o centro do mundo

De todos os destroços

Talvez se erga um Deus desconhecido

E um soturno piar de coruja

Será a chave que abre a noite encardida

Nada restará da desordem dos átomos

O vento retardará o aroma dos sentidos

Nada chegará ao fim...tudo será princípio

Talvez vejamos o zénite da alegria

A descer numa nave de sombras

E na selva escura se revoltem as luzes das estrelas

Desagrega-se a alma

Fuzilam-se as palavras

E o que resta...

É a beleza das constelações aflitas

Por não verem homens.

 

Permaneço...espero...

Permaneço...espero...

Escuto a música aquática das conchas

A lua aparece sobre a inaudível maresia..

Fala-me de segredos e de passos que se foram

Brandas vagas...fotografias convulsas...delicados peixes

Tudo chega com a frescura do crepúsculo

Vejo os restos da alguma sereia

Agarrados ao afiado bico das gaivotas

Sinto a poeira da cidade a enganar a noite

É o peso da alma a denegrir os olhares

Esboço a paisagem...bebo as estrelas

Conheço o cais onde o meu corpo

Será impregnado do cheiro amargo do lodo

Talvez alguém traga uma cítara

Toque a melodia do sonho

E eu me agite em convulsões de alegria.

Cantos ambrosianos

Ainda a terra se agarrava às minhas mãos

E já sobre o meu corpo cavalgava o silêncio das salinas

Dos cascos do destino saía o amanhecer

Era o fim dos lugares obesos com a poeira das horas

Talvez os dias sejam cítricos nascimentos

Talvez se recostem nos leitos dos mares

Talvez procurem nos cadernos

As palavras doloridas de Éluard

E inventem nas insónias dos deuses

O cansaço que sentimos de esperar por nós

Veremos o lento azul da luz...o corpo irrevelado

Feito patamar de outra existência

No desconhecido abriremos chagas...planícies...ilhas

Então fecharemos os olhos

E imaginaremos corpos lindíssimos...geométricos

Cantos ambrosianos eclodirão nas cavernas

Recordarão que o tempo não tem medida

E que a grande página que nos cerca os dias

É feita de outra escrita...

De outro sinal...de outro trigo.

Como quem se suspende de si

Eu que já fui lume pálido

Que atravessei ramagens e primaveras distantes

Que me embalei na clara fantasia das tardes

Sabendo que irias chegar como uma esperança

Ou como um poente onde se desfolham ventos de ternura

Onde a poeira que me cobria os pés era um fruto do caminho

Mas eu sabia que uma divina voz me viria acordar

Que para lá de todo o caos um caminho se abriria

Tão completo e pleno

Como quem se suspende de si

Como quem segue rente a um horizonte fantástico

Ao encontro de um amor transbordante e denso

Como uma nítida paisagem onde jorram fontes

Onde me apago no teu abraço terno.

Coração a transbordar de horas

Qual é a tua metade e a minha metade?

Brusco jardim suspenso no mar apocalíptico

Espuma de mil esplendores

Crença na ilusão de um só

Corpo e caminhos de areia

Coração a transbordar de horas

As coisas florescem numa exaltação sem fundo

O nosso bailado perde-se no indizível

Somos o secreto cristal de uma noite em fogo

A divagação de um barco rompendo as ondas

Como um sonho longo onde damos as mãos

E leves como a doçura de um verso

Caminhamos...juntos.

Dias inacabados

Cheguei à vida imaginando que o meu tempo era infinito

Que os meus pés que pisavam a areia

E se molhavam no espelho das praias

Eram os cúmplices que eu precisava para a viagem

Que os reflexos dos navios amavam o infinito da gaivotas

E os solstícios que vagueavam rente às ondas

Eram a textura dos dias inacabados

E havia uma linha por onde a luz se escoava

Um apito de vento que caía sobre as ondas

Uma planície feita de sensações e chão carregado de sinais

Espero ainda que o mar me traga a página em branco

Que um bando de andorinhas-do-mar permaneça junto às falésias

Para eu ter a ilusão de ser feito de penas e asas

De voar pelos recantos

Onde o reflexo das palavras possua a geometria da solidão

E me explique os pressentimentos do tempo

A medida inodora do silêncio

A escala da alma perante o branco caiado das paredes

É tão longa a sombra da azinheira

É tão grande um rosto sem nome

Que entre medir o tempo e viver

Há um dislate de que se agarra aos corpos

Como um olhar que olha sempre em frente

E não vê vivalma...