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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

A dimensão do amor

Gosto da maneira como os dias se esquecem de inventar o mundo

Gosto de praticar a arte de percorrer a vida com os olhos desprotegidos.

 

Há um abismo entre a razão de existir

E a emoção intolerável dos teus lábios

Há uma largura alta e forte na tua alma

E um prazer permanente a adocicar as emoções

 

Gosto de apertar em mim todas as dimensões do espaço

E depois de beijar o infinito..inventar palavras de amor

E escrevê-las com a minha língua no teu corpo nu.

 

É excessiva esta tempestade de lágrimas

Há tanta gente dentro das lágrimas..

Que a tempestade é sobretudo uma forma anónima de te amar...

 

Chamo por ti e fecho os olhos

Pratico a inexistência de ser saudade

E paro dentro dos silêncios da tua voz.

 

Há uma geografia dentro de um orgasmo

Uma maneira de aplacar os temores

Resta-nos o gosto de ser carne...

 

Prometo que dentro do frio moram as fragilidades da morte

Abro-te como a uma porta

E esqueço-me de sair...

 

 

O dia folheia-se

Voltam os lugares

Lugares iguais a outros lugares

Lugares despidos... langorosos

Solfejo de marés e fios ruas vazias

O dia folheia-se

Observo o despertar esquivo dos rostos

Além está o abstrato

Aqui a distância que se apega à pele

Bebo a soma dos corredores

Pelas vozes perpassam cativeiros.

A ansiedade é uma luz..um patamar do existir

Uma nova forma de exortar os dias

A luz...esse soneto que se senta nos alicerces dos cegos

Esse sol ambíguo que se quebra se encontro às paredes caiadas

A luz está para além de todas as mortes

Dorme nas planícies

Desdobra as suas cores

Pelo chão feito de cantares límpidos

Asa de ave desprendendo-se do vácuo do silêncio

Perder-nos-emos junto à solidão

Alguém nos encontrará sôfregos e exaustos

Limparemos então as mãos aos nomes e aos rostos

Beberemos as sombras que descem dos tempos antigos

Daremos um salto em falso

Seremos um casario lento

Viveremos dentro de uma ânsia de rigor e estética celeste

Nos pátios...nas cidades

Ninguém restará para recolher os nossos passos

Acordaremos em todos os lugares

Nos mesmos onde dormem as praias...livres

Viveremos rente ao veludo do chão

Presos na voz adormecida dos pássaros

Abriremos as nossas cores

Seremos flores que olham cara a cara a brisa e o vento

Por fim..desceremos pelo cheiro extasiado do verão

Rumo a todos os rumos

Como se queimássemos a noite dentro

Dos nossos olhos...

Uma conta simples de fazer

À Ordem dos Médicos não interessa que haja mais médicos. A Ordem quer manter o actual estado de falta de médicos. A Ordem dos Médicos diz ( e com razão) que temos um dos maiores rácios de médicos por 100 000 habitantes a nível mundial, e que portanto não faltam médicos. Ora se pensarmos bem, este é um argumento falacioso, porque não interessa o rácio de médico/habitante, o que conta é o rácio de médico/hospital. É aqui que vive o busílis da questão. Se formamos o mesmo número de médicos que sempre formámos e temos número muito maior de hospitais (privados) a consumir médicos, é lógico que segundo as leis do mercado, irão faltar médicos em algum lado. Como aos privado interessa acabar com o SNS para ficar com todo o mercado da saúde, os privados pagam um ordenado muito superior aos médicos de forma a "secar" o SNS. Aqui há três coisas a fazer: pagar melhor aos médicos do SNS, demonstrar que as balelas da Ordem dos Médicos são só para manter a sua situação de domínio da saúde fazendo com que haja falta de médicos e por fim como é óbvio, formar mais médicos, mesmo recorrendo a universidades privadas.

Uma praça feita de homens sós

Com a sua manta feita de brisa

Passa os dias suspenso no sono das imagens

Sonha com o movimento leve dos corpos

Olhos de avelã...clandestino alicerce de si mesmo

A sua sombra distendida

Reflete-se nas tábuas que lhe servem de soalho

No ar... o sal inebria os caminhos

E o sol recorda-se das velhas figueiras.

Na distância que fica rente ao cativeiro do horizonte

As ruas apagam-se no mar

Pega neste segredo e segue pelo desconhecido

No fim descerá ao olhar branco dos seus passos

Sai do seu corpo

Sabe onde os carvalhos tecem lendas

E onde as flores se espalham pela ironia dos jardins

Sabe que há um lugar no mundo

Uma praça feita de homens sós

Um lugar esquivo

Entrançado nas imagens cruéis da guerra

Não sabe bem o que procura

Talvez um casario branco

Talvez uma margem ou uma ave

Passa rente a todas as catástrofes

Dispersa-se pelo rosto das crianças

Percorre todas as memórias

Acaba dentro de um milagre...é a noite

Ou o tardar evasivo das almas

Conhece os cardos

Refugia-se na agitação das ruas

Desconhece a idade dos templos

Mas move-se...como uma memória

Ou como um fugitivo que desembarca em Lesbos...

 

Que se quebrem os dias

Que se quebrem os dias

E os perfumes dos corpos evadam as ruas

Que as vozes digam alma em vez de solidão

Que nos rostos vejamos os traços da poesia

E quando chegar a nossa vez

Digamos que dividimos a desolação pelas frinchas do sol

O dia volta

Suspende-se clandestino pelo langor dos jardins

Do sono despertam agora os gritos da manhã

E no bulício dos corredores

As fotografias lembram-se dos tempos da pobreza

Há nas cidades um frio entranhado nos rostos

Há uma imagem de crueldade em cada mão estendida

Enquanto as estrelinhas saltitam no céu invisível

Todas as noite haverá um suicídio de imagens disformes

No fumo dispersado pela aragem veremos cidades

E nos alicerces das vozes veremos a miséria dos malditos

Veremos o voo da morte a ensombrar as paredes

Veremos as mãos desarmadas

A limparem a ansiedade nos claustros das igrejas

Bailemos...bailemos dentro do nosso cativeiro

Que todos os que bebem água pelas mãos

Um dia serão sono e doutrina

Caminhemos..e que os nossos calcanhares pisem as guerras

Que o inverno beba em nós a agonia do frio

Sejamos distantes e desconhecidos poetas

E que os nossos passos se despenhem no mar

Enquanto o nosso corpo vagueia pela nossa maldição

Dividamos as estrelas..uma para cada um

Sejamos nómadas e esqueçamos os códigos dúbios da alma

É preciso estar de pé

Reconhecer a bruma original da vida

E agarrar uma constelação granítica...

 

É tempo de te salvares do tempo

Vem e deixa que a tua sombra

Seja a festa que passa rasando os meus olhos

Vem como se fosses o imortal momento do amanhecer

O momento que apaga a saudade e se concentra em nós

Como se um tempo indivisível se tratasse

Diz-me um adeus...agita-me

Acorda-me do misterioso sono dos condenados

Sabes que se olhares profundamente

Verás o tempo acre a sugar os poros das águas

Mas é sempre a tua voz que oiço

Ignorando todos os silêncios

São sempre os teus passos que me tocam as mãos

É sempre esse deslizar

De caravela enegrecida pelo mistério das despedidas

Conseguirá o instante aprisionar as tuas mãos desertas?

Conseguirão os espelhos mostrar todas as nostalgias?

Envelhecemos..perdemos a festa

Somos o pescador de mistérios

Por quanto tempo daremos por nós

A percorrer a imortal beleza dos dias?

Debaixo da saudade dos xistos há um afagar de sedas

Há um pulsar de rugas nacaradas

Um estremecer de sombras feitas de deuses

Não te enganes

É sempre o instante que comanda a eternidade

E nós somos apenas o voo da paciência

A cidade em festa..o imolar das fomes

Nas areias nascem olhos

São o lado fresco das feridas

Estica o arco..atira a flecha

É tempo de te salvares do tempo.

 

Sou apenas ar...

Escavo as formas da cidade

Longe de mim pensar que na sedução da chuva há um festim

Na penumbra dou nomes às coisas que me habituei a olhar

Ano após ano abro a terra

Crio mundos onde nada obscurece a visão

Divido a noite em pequenos passos

Habituei-me ao fogo dos corpos

E passo pela treva

Como quem quer pertencer apenas a outro tempo

Ou a outro espaço

Por vezes incendeio as ruas

Faço delas argila

Levo-as ao lume brando do fascínio

Germina então nas calçadas

Um sono de estrelas

Um pomar de corações em delírio

Longe de mim tremeluzem os nomes das coisas que invento

Ninguém sabe que ali estou

Sou o lusco-fusco do lume que afaga as paredes

A sombra subalimentada do vazio

Ludibrio os dias com a insónia

De quem não sabe o nome de quem passa

Reconheço nas cores calcárias

Os corações angustiados e a docilidade das trevas

Sei de onde sopram os ventos

Abrigo em mim todos os que querem sonhar

Abrigo em mim todos os vazios da cidade

E as cicatrizes das línguas

Anoiteço e a penumbra senta-se comigo

Nos degraus ensonados da noite

De súbito esqueço-me de tudo

Elevo-me até aos confins dos desolados

Relembro os cantares das cigarras

Passos ecoam na minha pele

Sou apenas ar...

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