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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Corpos suados

Na planura de um verso...cheguei

E o silêncio vestiu-se com a tua idade

Cheguei a pensar que eras uma luz

Uma dança emanava da tua fotografia

O canto...a cidade...o riso

Eram anónimos ruídos que a noite trazia

Do outro lado de ti...vi as luzes apagadas

Desci à terra

E encontrei-me com as ranhuras das tuas mãos

Brilhavam fogos dentro de frenéticos suspiros

Abril escapava-se pelo orvalho pousado nas rosas amarelas

E eu não sabia que eras a claridade que espiava a noite

Eras o baloiçar de um vestido feito de gaze carmim

Dentro da tua melancolia moviam-se cobras asiáticas

Danças de luzes foscas

Encontrar-te...

Era beber a geada pelos olhos negros dos melros

Era vestir as aragens que as aves traziam nas patas sôfregas

Era navegar pelas sombras anónimos dos buxos

Era descer a outra terra feita de colinas

Debruçadas sobre a lonjura da solidão

Encontrar-te era exalar o frio húmido das cavernas

Habitar a incerteza

Procurei no balançar trôpego dos mapas

Procurei na astrologia dos suspiros

A amurada dos silêncios...o desbravar da alma

Mas não passei de cal...branca e pura

Desfazendo-se na desordem do tempo

Como uma luz que se alarga em redor dos corpos

Inebriante...sumarenta...vasta

Tatuada em dolorosas e impossíveis geometrias

Mostrando a nudez e a plenitude dos corpos suados

Brilhantes...fugidios...

 

 

Quando nascem flores nos meus olhos

Nasci para ser eu

Não nasci para ser um fato talhado à medida de outros

Nasci de uns olhos claros

Habitei o silêncio e fiz de cada coisa uma intimidade

Não regressei nem parti de qualquer lugar

E vivo a abraçar a estranheza de mim

Conheço a força clara do mar

E bebo da terra os sonhos quebrados

Colho tardes planto oásis

Nasci como uma secreta vela que embala as tardes

Guardo intacta a memória da primeira brisa

Guardo intacta a memória do primeiro abraço

Possuo o êxtase de uma onda a derribar na praia

E a mágoa branca de uma estátua pura

Por vezes perco-me na claridade da paisagem

Por vezes perco-me na exacta proporção do tempo

Sou maré de mundo e solfejo de mágoa

Sou a espera serena o linho branco

Devoro o tempo como ele me devora

E a mim próprio chamo bóia de salvação

Quando oscilo nos braços frios da dúvida

Quando uma auréola de olhar cai sobre mim

Quando nascem flores nos meus olhos.