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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Convite - a apresentação

A apresentação  dos livros:

Na brecha dos dias - a seguinte  introdução dá o mote a todo o livro - A vida é um labirinto que corre em linha recta- de facto cada poema é um pequeno percurso desse labirinto. Cada poema é uma linha recta que bebe a vida. E é também um labirinto que se percorre para além da vida quotidiana. Cada poema procura compreender o luminoso nevoeiro da alma. Cada poema é um recanto de qualquer coisa que pulsa na nossa vida. ( a poesia?)

O outro livro:

Silêncios de papel - Este  livro dá a sua partida com uma frase de Woody Allen - A obessão consigo mesmo é uma traiçoeira perda de tempo - esta frase irá ser o motivo por pelo qual se encandeia o livro. Cada poema deste livro é como caminhar por uma obessão que se esconde em cada frase. É caminhar pelas pequenas coisas do dia-a-dia, onde iremos encontrar (ou não, isso depende de cada um) o que faz de nós mágoa e luz. E é também uma vela que no leva a navegar no paradigma que faz de nós seres humanos.

A agora a seguir aqui está um poema do livro Silêncios de papel ( falado).

contracapa jpeg.jpg

 

Convido todos os meus amigos a comparecerem na lançamento destes dois meus livros.

Os meus seguidores que vierem assistir ao lançamento, terão os dois livros como oferta.

contra capa   jpeg.jpg

Marés sem eco

O vento afia as suas rajadas no desassossego das esquinas

Algures uma miragem descobre um abrigo feito de sonos vivos

As sereias pedem boleia na margem das ruas estagnadas

E um incomensurável aperto envenena os desejos à beira da extinção

Finges ser uma cinza enigmática

Que alimenta a felicidade em quartos esconsos

Foges para um abrigo feito de setas envenenadas

Que se parecem com rendas espumantes.

Queres a felicidade registada na tua pele

Como uma tatuagem inaudível

Ou como um vago gesto

Que se desfaz numa máscara de inquietantes proporções

São brancos os sossegos

Que se festejam nas manhãs onde as articulações gemem.

 

Pernoitámos num tabique à beira de uma montanha gelada

Onde segregámos o cansaço numa orgia de sangue e espelhos quebrados.

Festejámos...sim festejámos

Como notívagos vagabundos que se desfazem dos dias

Que os atiram contra uma parede feita de ossos rendilhados

Onde memórias de inquietos rostos estão plasmadas

Num esfíngico riso de caveiras trémulas

Que paralisadas por invisíveis dedos de gesso

Estremecem como trevas em espelhos

Que se separaram dos disfarces

Que partiram janelas

E que por fim se aniquilaram

Num cheiro aquático de marés sem eco.

Finjo silêncios

Escrevo o último instante

Sobre o sono murcho das buganvílias

O sono é mais pesado que o ladrar dos cães

O silêncio dilui-se nesse ladrar acidental

Recolho-me dentro do sorriso feito com o barro das estrelas

Circulo na noite para lá de todos os receios

O jardim abre-se todo para mim

Como uma ave liberta ao sol

Recolho nos meus olhos o azul-celeste

É um azul deserto de respiração

Nu... como os passos da aparência

Viro-me para o outro lado

Não receio as águas que deslizam pela calada da noite

Vejo-me com um olhar espesso

Um olhar feito de olhares

Um olhar que deito para as costas

Como se fosse uma fotografia nocturna

Não há horas para os moinhos

Apenas vento e uivos tristes

Na profundidade de um corpo surgem inesperadas estrelas

É possível que a eternidade dos relâmpagos

Me faça lembrar dos receios

Mas a memória ergue-se das fotos

Como bolor saindo dos rostos

Sei que nas asas sonhadoras do espaço habitam mares nítidos

O destino é uma ave caída do ninho

Ignorando as memórias empoadas da terra

Reluz a cal ao sol do deserto

É excessivo o mundo que me enche a mão

Finjo silêncios...ignoro-me

A casa atravessa-me os ossos

A minha fantasia cria musgos verdes em paisagens desertas

Fujo de todos os limites...de todas as viagens

Resguardo-me na caleira que leva ao coração

Escondo as mãos num rosto ardente

E escoo-me pela noite fingida.

Voo silencioso

Abri os meus olhos

E vi a irresistível atracção da beleza trágica

Inflamada por um tempo sem essência

Que se faz passar por uma recordação

Absurdamente maravilhosa e clarividente

Contemplo esse tempo

Com o coração aberto sobre os meus olhos cegos

Que a si mesmo se torturam

Com a recordação impossível de um amor feito de febre

Já não me posso fazer passar por mim

Já não posso amaldiçoar as alegrias

Nem as penas...nem as sombras

Já não distingo o tempo

Em que o sono me surgia

Como um cume submerso em nevoeiro

Tão cruel e verdadeiro

E ainda maior e mais fechado que uma sombria água

Ainda maior e mais profundo

Que uma paisagem que floresce

Apenas para os olhos despertos

E para os matizes triunfantes da volúpia

E mais que um sonho cintilante

E mais que uma terrível sombra

Que num chão de carmim

Segue fechada ao inebriante amor

E mais que uma sonoridade eloquente

Que multiplica os sentidos em alvas doçuras

E mais que horizontes de luz e verde

Banhados pelas sonoras cascatas de serenidade

Em que os enormes mistérios da solidão se vingam

Nas flores que se desfolham

Em caprichosos perfumes afrodisíacos

Como se fossem violinos entoando melodias

Que encantam o nosso voo silencioso pelos bosques do céu.

O útero de tudo

Pensei que caminhava sob um profundo céu imaculado

No eco da minha voz escutava a prisão da imensidade do espaço

Estendi-me como um morto que absorve o nada

Despi-me dos meus desgostos

Manchados de sangue coalhado

E todas as coisas me pareceram venenos coloridos

Vagas de marés vazias a estilhaçar no absurdo dos dias

Então entreguei-me

O gelo das minhas mãos espevitou a vida

E soube que o Inverno era uma sombra desmedida

Percorrendo o espaço dentro de mim.

 

Pequenas coisas...presságios...outros mundos

No desconhecido libertamos as perguntas...há magia

Os olhos percebem que cedo chegará a luz do dia

Que o espelho inverterá a sua sombra

E que do escancarado da penumbra surgirá um corpo

Como se fosse o centro de coisa nenhuma

Ou o útero de tudo.

 

A secura dos dias

Quando os dias negros nos crestam a pele

Que arde na secura das horas

Quando vestimos fatos estranhos

Sobre o o nosso corpo adormecido

Quando o nosso espírito não repousa sobre um lençol de paz

Não há distâncias seguras entre nós e o mundo

Não há ruas nem olhos imóveis para nos curar

Somos apenas um palácio desocupado de alma

Somos anjos feitos prisioneiros

Com os ombros encolhidos pelas coisas penosas

Somos crianças na posição fetal

À espera da luz virginal

À espera da hora em que despertaremos de um sono

Como sonâmbulos sem sonhos

À espera de nos reconhecer-mos nas delirantes voltas dos dias

Como se fôssemos bons...e maus

E entrássemos num céu desgostoso

Onde as lajes frias nos recebem como convidados

Porque abandonámos a inocência

E nos tornámos sombrios...

Olhos de cristal

Estendo o meu corpo na penumbra exaltada deste quarto

E vejo entrar a noite companheira

Mais abaixo está o rio...os cais...os barcos

E a água corre rasa e verdadeira

É então que a lua me chama à janela

E espantado... vejo-a pendurada nos beirais

Onde me mostra a tua imagem tão inteira

Que os meus olhos se desfazem em cristais

Com que depois enfeito o teu corpo nu.... de feiticeira.

 

Recolho-me às palavras

Fecho a minha porta ao mundo

Recolho-me às palavras

Que são a minha testemunha dos dias arrastados

Por isso matizo as minhas horas

Com a beleza fulminante dos saturados

E pergunto aos encantos pela essência dos dias mortos

E pergunto à noite pela cor das pétalas das papoilas

E pergunto às coisas por que passei se me viram acordado

Ou se me viram arrastado

Como uma sepultura rósea num jardim desencantado...

Palavras doces

Estás comigo como uma árvore antiga

Cujas folhas têm o tamanho das sombras

E cujo perfume encanta os meteoros tormentosos.

Que belos... vagueiam pelo céu

Onde estão ancoradas as minhas confidências

Numa almofada feita de terra e raízes

E porque não posso mais dissimular a noite

Que a tua ausência me trouxe

Tu sabes bem o que são as portas fechadas

Imóveis nas suas dobradiças ferrugentas

Tu sabes...como sempre soubeste

Que os troncos arrastados pela corrente

Vão em deriva dar às auroras

Que aprenderam a calar-se

Dissimuladas em flores frias

Sabes...porque já me disseste palavras doces

Já me contaste que o tempo afundado nas areias

É um vício de espuma morna

E que as páginas de uma solidão imperfeita

São a concha onde a paixão ganha asas

E onde os homens se fragmentam em olhos e carne

E dores vorazes

E que um dédalo de assombros efémeros

É apenas um fio de água

Capturado nos olhos de uma ave ofuscante.

Asas de lua

Dormem os sentimentos no aconchego dos medos

Dormem enroscados no profundo mistério da alma

Dormem vigiados pelo tempo escorrido no presságio dos dias

Como areia num retrato mágico...fingido e sereno

Como uma ancestral noite branca

Que espera o seu estio

Não há cansaço nem tempestade

Não há segredos nem tormentos

Nem presságios ancorados na magia dos olhos

Há apenas o absoluto céu estrelado

Onde se abrem os parapeitos do silêncio

Que permanecem absolutos como sinas mágicas

Ou como palavras entreabertas aos corações imóveis...parados...caídos

Enquanto as árvores cansadas das manhãs cinzentas

Escrevem com tinta negra...sobre um deserto de jade

Que a nossa alma vive ancorada

Numa angústia com asas de lua.

 

 

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