As velhas
Abro a gaveta
E dentro dela o lenço lavado fala-me de lágrimas
Saio para a rua
E vejo depositados no passeio os anos vergados pelas pedras
E passam ventos..e transpiram velas
E o sal queima a quilha dos barcos
E chegam nevoeiros
Caem indeterminadas chuvas
E os dedos sentem as frieiras
A pouco e pouco
Aconchega-se às casas o som dos búzios
Passa por elas e é como se fosse uma lenda antiga
Alumiando a fantasia das marés
E o que fica é apenas uma rua
Onde ciciam passos solitários
Lutos de lumes outrora incandescentes
Mensagens exaustas de carregar filhos ao colo
Digo para mim que a chuva é cega
Que molha os seios enrugados das ladainhas
Que lava as palavras
Mesmo aquelas que saem do vapor da boca
Sento-me..dormito junto a um bando de estorninhos
Vergo-me ao momento solene
Aquele em que as avós bordam arabescos no enxoval das netas
Românticas...velhas...
Obscuras personagens carregadas de fantasia
Vivendo intermináveis vidas de silêncio
Despertas como tochas
Indispensáveis....