Mundo rasgado
Se a boca te sabe a um silêncio gasto e frio
Lembra-te que há sempre uma neve a derreter
Lembra-te que trazes nos olhos a cósmica desolação da noite
Mas podes sempre regressar ao tempo das estrelas
Podes sempre brilhar na íntima florescência da solidão
E não há ninguém
Que te encontre na distância dos astros
Na sôfrega partilha dos gestos
Na ansiosa imagem do alvorecer dos rios
Porque tu persegues a distante insuficiência das imagens
Que te aterrorizam...como gaivotas negras
A sobrevoar a tua alma de presente sem futuro
A planar no requebro do corpo
A procurar em ti o sangue
Que não queres derramar
Mas olha esse barco feito com a força das mágoas
Esse barco cujas velas vencem o vento
E que nunca se dobram à passagem do terror
Porque tudo o que te acontece
É o destino a derramar futuros
É a vida a evocar o teu corpo
É distância a perguntar por ti
São as leis da força bruta que tens que vencer
Para que não te arrastem para os insondáveis abismos
De um vasto mundo rasgado...