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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Nada mais que delírios!

Na manhã de ouro

Um castiçal de volúpia acorda as horas

Cada raio de sol é um veio sagrado

Cada nascimento é um reino

E a primeira palavra é um grito

Depois...há que percorrer as florestas

Calcar os montes

Não deixar que os olhos apodreçam

Em cada margem há um desejo

Em cada dia um seio sagrado

As rupturas da nossa vida são sequiosas serpentes

São grandes rios de reflecção

São a primeira margem de um novo porto.

Podemos precipitar-nos em desejos

Podemos abocanhar os grandes rios

E podemos ser o raio de luz que se despenha no lodo

Tudo é nascimento e feitiço

Tudo são palavras que nada dizem

E todas as coisas

São desígnios que nos despedaçam e curvam

Somos no final...

Nada mais que delírios!

 

A fotografia da infância

Não trago mais em mim...do que uns olhos e umas pedras

Não trago mais em mim...do que um fogo e uma ternura.

 

Agarro o mundo com os meus dedos cósmicos

Desembaraço-me das estrelas e planto aves negras em cada beiral

E não digam que não vêem... as sombras do meu pensamento.

 

Por aqui ando a sentir este véu de tempo a consumir-me

Por aqui falo das rosas e dos trevos

E também...do meu desamor pela carne inútil dos dias.

 

Que fazem as nuvens que pairam num céu de corvos?

Que buscam os homens que pairam num tempo gretado?

E as noites...e a seda...e a indiferença...

Que diferença fazem na vida de cada um?

 

Perdeste as chaves...

Já não podes abrir a fotografia da tua infância...

 

 

As cores passam

Agitam-se em floridas longitudes

Iluminam lodos...afogam-se em pessoas sem nome

Mas as flores...continuam a florir

Inundando as almas...com desprendida beleza...

 

Mundo rasgado

Se a boca te sabe a um silêncio gasto e frio

Lembra-te que há sempre uma neve a derreter

Lembra-te que trazes nos olhos a cósmica desolação da noite

Mas podes sempre regressar ao tempo das estrelas

Podes sempre brilhar na íntima florescência da solidão

E não há ninguém

Que te encontre na distância dos astros

Na sôfrega partilha dos gestos

Na ansiosa imagem do alvorecer dos rios

Porque tu persegues a distante insuficiência das imagens

Que te aterrorizam...como gaivotas negras

A sobrevoar a tua alma de presente sem futuro

A planar no requebro do corpo

A procurar em ti o sangue

Que não queres derramar

Mas olha esse barco feito com a força das mágoas

Esse barco cujas velas vencem o vento

E que nunca se dobram à passagem do terror

Porque tudo o que te acontece

É o destino a derramar futuros

É a vida a evocar o teu corpo

É distância a perguntar por ti

São as leis da força bruta que tens que vencer

Para que não te arrastem para os insondáveis abismos

De um vasto mundo rasgado...

Uma longa noite

E tu que ardes num madrigal de versos confusos

Tu que te inebrias com a indiferença dos que passam

Achas que nas ruas se acordam pesadelos

Sem que tenhamos a audácia de forçar a porta?

Que se abra uma longa noite coberta de ouro

Escondido atrás de um imenso espaldar de remorsos

Onde vive o perdão de um deus alucinado...

 

Ainda agora vi a luz que as pedras irradiam

Ainda agora despertei para a côr azulada do destino

Um destino excessivo...tumultuoso...desabitado

Um destino a revoltear nos insanos anéis do vento

Como se fosse um corpo cavado no poente

A desabar pela escarpa de uma ilha transparente

Onde...quem conhece

Sabe da tela que a noite espelha nos telhados

E das pinturas que as ondas cavam no amanhecer.

 

As velhas

Abro a gaveta

E dentro dela o lenço lavado fala-me de lágrimas

Saio para a rua

E vejo depositados no passeio os anos vergados pelas pedras

E passam ventos..e transpiram velas

E o sal queima a quilha dos barcos

E chegam nevoeiros

Caem indeterminadas chuvas

E os dedos sentem as frieiras

A pouco e pouco

Aconchega-se às casas o som dos búzios

Passa por elas e é como se fosse uma lenda antiga

Alumiando a fantasia das marés

E o que fica é apenas uma rua

Onde ciciam passos solitários

Lutos de lumes outrora incandescentes

Mensagens exaustas de carregar filhos ao colo

Digo para mim que a chuva é cega

Que molha os seios enrugados das ladainhas

Que lava as palavras

Mesmo aquelas que saem do vapor da boca

Sento-me..dormito junto a um bando de estorninhos

Vergo-me ao momento solene

Aquele em que as avós bordam arabescos no enxoval das netas

Românticas...velhas...

Obscuras personagens carregadas de fantasia

Vivendo intermináveis vidas de silêncio

Despertas como tochas

Indispensáveis....

Os créditos e os depósitos a prazo

Sabemos que sempre que o BCE aumenta a taxa de juro, os bancos de forma automática, (respeitando os prazos), fazem o mesmo relativamente a quem tem créditos bancários. Contudo no que respeita aos depósitos a prazo, estamos num tempo em que se paga para ter lá o dinheiro, ou seja, os depósitos a prazo praticamente não têm remuneração. Isto significa que para além de pagarmos aos bancos, ainda estamos a perder dinheiro por causa da inflação. Na verdade ninguém é obrigado a ter o seu dinheiro no banco, mas vai pô-lo onde? No colchão como antigamente?

 

Em minha opinião, o BCE assim como sobe os juros do dinheiro que empresta aos bancos, deveria também obrigá-los a aumentar a remuneração dos depósitos a prazo, não é por acaso que a banco tem milhares de milhões de lucro e os pobres clientes, ( hoje já nem são clientes, uma vez uma bancária teve a “lata” de dizer a uma amiga minha que se não gostava da taxa de juro que o banco pagava 0,005 %, levasse o dinheiro para casa), hoje o cliente é apenas um pagador de manutenção de conta.

 

Na agonia da tarde

Na agonia da tarde

Um grito inventa os tentáculos do mundo

Mecânicos olhos...extensíssimas lágrimas

Estátuas de espelhos

Na mão da angústia erguem-se os códigos do passado

Na boca das múmias florescem átomos de maresia

São o filtro de tempo...paleolítico sangue

Sugamos as pérolas enredadas em espinhos

Falamos dos despojos da pele

Somos o refego dos dias

Encenado em cambiantes de cores frescas

Do hálito do sonho brota a insónia

Fátuos labirintos nascem na rubra manhã

O passado congelado em pedras sulfúricas

É uma solitária febre...um enjoo de guerras

Uma heresia de espaços

E um infinito que rasa os olhos

De água.

Dentro de mim

Atravesso o amargo sabor dos séculos

Atravesso o tempo

Como se flutuasse numa seiva gratuita

Agarro o coração...meço a distância

E salto através das letras

Que confluem para o meu inóspito medo

Embrenho-me em palavras

E através da contaminação dos ecos

Assombro as línguas estupefactas

Copio o sabor acre dos sítios que esqueci

Guardo os sonhos em crateras lunares

Sou a incoerente face do fogo

Sou a morada das coisas que não farei

Recito versos...atravesso pontes inacabadas

Consolo-me com o que não sei

Experimento palavras que repousam por aí

Palavras de todas as cores

Verdes...podres...enfastiadas

E vêm ecos erguendo distâncias

E vêm salvas de íridio branco

Atómicas salvas flutuando no espaço dos dedos

E vêm flechas...e atónitos pontos cardeais

E dos confins dos olhos saem versos desmedidos

E o silêncio crepita

A mão ergue o facho...a chuva cresce

As páginas quebram-se de encontro aos palcos das tragédias

E já não há páginas

Já não há gaivotas a debicar o tempo

Já não há espaços em branco

Dentro de mim.

Do lado de fora

Desvanecem-se as raízes que nunca viram o sol

Solidificação de terra abraçada a nós

Continente desfocado...trémula vontade de viagem.

Debruçada sobre a Terra inteira

Deixo que o rio deslize

Que o mundo morra afogado num abismo aquático

E o meu corpo regresse

Silencioso como um cisne

Que passeia num lago desconhecido

Como um imperecível e lento arrependimento

Deslizando num sonolento vale

Surdos gemidos...restos de nós

Silêncios balançando sob um vestido negro

Imaginação de corpo alvar

Que se despe lentamente numa caótica dança africana

Invisíveis rostos...

Tudo atravessa o meu tempo

E eu..fico do lado de fora

Observando o meu corpo transparente

Perante o teu corpo...desnudo!

A Ténue melancolia das ramadas

Há em mim uma cidade oriental

Uma lâmpada acesa...um azul

Um canto divino... celestial

Uma rua...um sonho..uma penumbra

Há em mim uma nascente multicolor...uma história

Um vermelho...um tapete voador

Há em mim uma Alma...um Destino

Uma jóia que não sei compreender

Sai de mim um fumo enegrecido...um abismo

Uma falésia...um friso....um rio...uma íntima sombra

Longe de mim ...procuro-me.

Lá longe onde sei que não estou

Nas florestas...nos ruídos...nas verduras

No mundo imutável das memórias

Nos areais pressinto rios...civilizações

Mundos alagados...interrogações

Da Eternidade saem fantasmas ajoelhados

Implorando por tronos feitos com hálitos prateados

Bebendo castos o tempo da memória

Mas os mastros deitam-se em palácios

Como se se erguessem dos sonhos da vitória

Há em mim janelas..casas

portas que o tempo arremessou

E nas costas escarpadas dos enigmas

Ouço cantos...febres...cais longínquos

Impacientes procissões..estradas asfaltadas

Vejo milhentas mãos arruinadas

E também vejo... lá ao longe

A ténue melancolia das ramadas.