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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

A solidão está gasta

E mesmo que corra toda a cidade

A procurar a tua mão

E mesmo que a queimadura que me invade

Se disfarce de tédio

E mesmo que esgravate na tua ausência

Todos os momentos que fomos

Sei que as minhas forças se dispersam por outros lugares

Sei que os meus lábios já não se aconchegam

Na fissura ambígua dos teus ombros

Sei que há um veneno

Sedento do sangue acre que se dispersa pelas ruas

E depois...

Também sei que a solidão está gasta

E mesmo que a memória se corte na lâmina do passado

Nada trará de volta...

O corpo...o sangue a ferver

O fascínio das visões tatuadas na pele

As certezas de que os sonhos

Ainda vivem na boca das flores

E nós..distantes..a avançar mar adentro

A afiar a a secura das vagas

A saber que a saliva é um veludo

Sobre a pele seca dos sargaços

Talvez ainda nos restem ilhas distantes

Areias desesperadas nas praias onde não fomos

Talvez o mar se torne sonâmbulo

E durma connosco na dilaceração das noites

Talvez os sonhos se tornem sagrados

E a lua se aproxime da chuva

Que cai no sangramento dos dias

E uma e outra vez as imagens vêm

As feridas retiram-se...os corpos adormecem

Plenos...como fotografias tirada sob uma luz extasiada

Ou como pequenas tatuagens de estrelas

Que se vêem em firmamentos de aflição...

E nós...sós

Completamente absortos...sedentos

Da tragédia do Homem.

 

O princípio de ti

Gostavas de saber tudo o que podes ser

Gostavas de espalhar magias..segredar aos mares

Gostavas de desembocar numa rua

Onde as feridas da alma se lavassem na textura das luzes

Gostavas de saber que inúteis dias se desprendem dos gestos

Que asas voam em direcção a um mar amorfizado

Que águas se pressentem no tempo das tempestades

Que telas se escondem

Por detrás das coisas que te transportam

Hoje é o tempo das janelas

Que se abrem a um tempo de melancolia

Hoje é o dia das luzes incompreendidas...ilusórias

Há uma variação de tonalidades na noite do pensamento

Há um alicerce que te agarra à terra

Uma ferida que se encolhe na febre das paredes

E na fímbria dos olhos há uma alma

Que se desprende em variações de cores outonais

Que assombros se alimentam da ventania breve que te assola?

Que ilusões te sacodem as tardes

E se depositam na febre ancestral dos teus passos?

Nada há fora de ti que não seja ilusão

Nenhuma chuva..nenhuma lama

Nenhuma viela ...te pode trazer a tua história

E se souberes perguntar à noite com as palavras certas

Ela vai falar-te de medos..de fel

Dde brilhos que povoam as vagas

E se sentires que o espaço é um jardim a perder de vista

É porque no teu caminho há uma sede

Uum vago sentimento de magia

Que vive no humilde assombro de seres uma vida

Um mundo...um esforço

Porque hoje és a soma de todos os teus fantasmas

De todos os teus séculos

Abertos na superfície ilógica da alma

E de vez em quando..cismas que és vácuo

Que és uma veia...ou uma emanação

E então surge em ti a caótica noite das vagas...da espuma

Dos muros onde o desespero assoma

Como uma madrugada onde a geada

É o consolo da vertigem que te assola...

E onde sabes que a primavera

É o princípio de ti...

 

Sei o que o teu corpo procura

Percebo que guardas em ti todas as noites do mundo

Sei que o teu corpo procura

A aura luminosa de todos os lugares

Por aqui segues à procura dos segredos

Além desistes da memória descolorida dos sonhos

E os dias chegam assobiando ao esquecimento

Prata lavrada em corpo simples

Riso esculpido em flores de cardo

Se a luz germinasse dentro dos teus olhos

Talvez os recantos do silêncio te escutassem

Talvez o avesso da noite

Não fosse mais que uma imagem feita de poros suados

Percebo que a penumbra partilha contigo

Os restos do medo de te perderes

E que a tua imagem

É uma fonte de pedra desgastada pelas lágrimas

Talvez descubras

Que no vazio dos desejos há vida enclausurada

E que das fragrâncias do cristal brotam cores irreconhecíveis

Do fundo mais esquecido de ti

Erguem-se imagens de lugares que não pisaste

Odes de tempos desgastados pela idade

Distraem-te do segredo onde te revelas

Suspensão de vazio...longínquas tempestades

Corpo de ametista fingindo vida

Aqui..no zénite grotesco do meu rosto

Revelo-te o meu nocturno riso...angustiado

Como uma pirâmide marcando a espessura da tarde.

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