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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Destinos improváveis

Entramos subitamente

Numa noite de inverno onde chovem ansiedades

Que despertam o voo das obsessões invisíveis

Somos a parede que reveste a vigília envenenada das madrugadas

A capa preta com que cobrimos as migalhas dos dias que nos restam

Comendo o adormecimento vago

De uma paisagem vestida de buracos viscosos

As nossas quedas usam asas infantis

Ardores de imensidão desmoronada

Rostos feitos de luzes etéreas

Corroendo as rosas que nos enfeitam

Somos súbitos olhares que usam óculos translúcidos

Desconsolados algerozes por onde escorre a nossa espuma

E tudo em nós persiste

Num escondido ardor que o sangue transporta

Todos os dias o nosso revezar de paisagens

É um restolhar da infância

Todos os dias sobramos

Como terra cheia de palavras escritas pelos vulcões

Somos a imensa erupção de um consolo inacabado

A fascinante imagem de um fim

Um fim que é um pacto selado com aqueles que nos amam

Porque a nossa luz

Se esconderá num caderno ou num vapor feito de palavras

Onde a nossa paisagem despovoada dormirá descansada

Sabemos que nunca enganaremos a viscosidade do destino

E que os sobressaltos irrompem sempre que vigiamos o mundo

Como asas de pano nu tapando máscaras aborrecidas

Atravessamos nuvens e sóis

Desmoronamentos de céus cercados de túmulos

E obsessivamente pensamos que devemos lavar o rosto

Tirar a pintura aflita que nos cobre

Mas os sobressaltos são pactos de sangue

São avisos de pálpebras transparentes

São sulcos de felizes corpos desnudados

Onde gemem destinos improváveis.