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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Vento sem nome

Conheço o ódio das guerras

E os estalos da lenha no fogo

Mas não conheço o que faz os ódios

Pesarem mais que os paraísos

Conheço as tatuagens devoradoras

Que indeléveis nos marcam os dias

Sei que o frio vem do desencanto

E os urros são espasmos do chão... pisado

Conheço a remota glória

Do brilho das jóias apagadas

Sei que a alegria será reinventada algures

Em plena rua..talvez

Conheço os espirros que saem das casas

Sei que as estrelas se põem especadas

Nos beirais dos prédios... desabitados

Conheço a verdade...porque não a conheço

E sei que cada um tem a sua...

Agora que conheço isto tudo

Quero encontrar-me nas espeluncas

Dormir nos lajedos...enterrar-me no frio

Brindar às despedidas da razão

E encontrar os que não se mascaram

Colados ao corpo sagrado de um vento sem nome.

 

Que é feito de vós?

Os homens...

Esses surdos que caíram de uma estrela impiedosa

Esses sulcadores de águas poluídas e perturbadoras

Essas criaturas

Que descansam os pensamentos em perfis de fogo

Que se encostam aos balcões brumosos do ódio

Que distância vos separa do silencioso tempo da paz?

Que enjoo açaimado rompe a palidez de cera das vossas tempestades?

Que criatura colocariam nos altares se a lua nova fosse brilhante?

Que almas salvariam da vegetação excêntrica?

Com que timbre surdo cantariam louvores?

Ai ! Raça Humana.

Ai ! Solidão.

Ai ! Gente de interior dissecado.

Que é feito de vós?

Um verso sem rota

Enganam-se as coisas reais

Perante as montanhas vazias

Enganam-se os castelos solitários

Varridos pelo vento sueste

Enganam-se os que se despenham nos ruídos distantes

Quando a presença é eco e harmonia

Enganam-se os desejos de grandeza

Quando o poente é um labirinto de silêncios

Enganam-se os sustos e os medos... da solidão

As coisas são reais...as presenças são reais

A ânsia é tão real como um amplo convés

Ou como uma sentida seara

As circunstâncias fazem correr o sangue apressado

Como se fosse invadir uma paisagem inóspita

Como se a realidade não fosse um esforço de grandeza

E como se a infância dos sentimentos

Tivesse começado agora

E nós fossemos um verso sem rota.

 

É o amor

É o amor

Esse sentimento que nos adocica os dias

Que sai à noite da cutis das brumas

Para assomar à frescura dos sentimentos

Que devora extensões sepultadas de nós

Como uma aragem que não sabemos de onde vem

Que nos disputa o corpo e a alma

Como uma eterna esperança

Que nos pára os pensamentos

Que nos cala os sons

Que nos faz perder na profundidade do tempo

Esquecidos...fixos no espaço

Surdos às correntes impetuosas

Fixos na flutuação do coração

E não queremos saber de onde vêm os dias

Não nos importamos com o corpo do tempo

Pois tudo cintila numa vertigem de poesia

Que nos penetra.. prende

E com a sua aura mágica nos circunda e enlaça!

Respondendo a uma pergunta que me foi feita

Pergunta

Olá Casimiro serás tu quem do Mestre é aprendiz ou é este quem ao Casimiro empresta o código ou as chaves que abrem as portas e janelas por onde ele ( um dos dois ou os dois?) procura escapar às garras da intrigante e dolorosa condenação que é a humana mortalidade, a qual parece afligi-lo(s), porque sabe(m) que o inelutável deixar, um dia, de continuar a ser, empresta à vida de quem hoje ainda é, um fraco norte e um muito absurdo sentido.

 

Resposta

Respondendo à tua pergunta só te posso dizer que em ambos( Casimiro e Mestre meu pseudónimo), reside a intranquilidade do absurdo da vida. Ou será que é tranquilidade? Não sei? O sentimento de  que a vida é um exílio num país sem vestígios, (e se alguns deixamos é seguro que serão comidos numa terra que não se cansa de nós), transforma-se num sentimento que é apenas vento ou maresia. Contudo temos esse mesmo vento ou maresia ou até a belíssima neve a acolchoar-nos os dias. Esses dias puros cuja limpidez pode ser o nosso horizonte. A nossa batalha não tem fim, por isso, que nada se perca do que possamos viver. Que nada trespasse a nossa vontade de perceber as noites estreladas. Que nos abramos ao desconhecido e sejamos ondas salgadas que rolam entre a curiosidade e o nosso naufrágio. Porque não somos mais que vento que repetidamente assobia nas portadas das janelas.

Reclusão de sentimentos

É preciso que algures se materialize o eco dos sentidos

É preciso que a distância saiba esperar

É preciso devorar o tempo

Comer o eco do mar

É preciso que as tristezas sejam sintomas de alegria

Que os silêncios sejam prolongados para além de nós

Áh! como o sangue ferve quando sente as gotas da chuva

Como a paisagem muda

Ao som do bater perplexo do coração

Como parecemos maiores

Que as conchas sussurrantes

Quando nos escondemos no silêncio

Com medo do eco feito de raízes negras

Como se ele fosse as nossas grilhetas do futuro

Cárcere...reclusão...desprendimento

Tudo vive dentro de nós

Tudo insiste em ser uma magnífica exibição da realidade

Todos os sentimentos se descarnam do nosso interior

E todo o nosso interior é uma reclusão de sentimentos.

Lugares

Ilustro a minha imaginação com a meia-luz da rua

O meu quarto é uma câmara escura

Onde sombras solitárias enfeitam as paredes

E onde a minha alma se desnuda...transparente.

Escondido na penumbra...perscruto esse lugar onde me escondo

Esse lugar sagrado e religioso...onde a vida se separa do corpo

E fica apenas...alma!

Visto o meu corpo transparente

Com sagradas vestes opacas

Porque a minha alma sonha com outra imagem

Com outro tempo... e com dias mais amenos...

A ilusão do tempo

Imagina que viajas todos os dias à mesma hora sentado no mesmo banco e te diriges para o mesmo local passando pelos mesmos lugares, todos os dias, não sentes que o tempo te fixou àquele lugar parecendo que nunca dali saíste? Como se o tempo tivesse parado inexoravelmente para ti? E quando chegas a casa e comes e te deitas não te parece que nunca dali saíste? Afinal podemos perguntar-nos onde verdadeiramente estamos ? Que sonho vivemos ? Porque coisas verdadeiramente devemos lutar...se o nosso adversário é o tempo? E os dias são a ilusão dele...

As papoilas loucas

Espetei o meu coração na ponta da lança

Exibi-o perante a Beleza...que se agoniou

Comecei a andar na rua que começa à minha porta

Comecei a andar em volta de mim

Até que percebi que tinha que ir a direito.

 

A ninguém devo explicações?

A quem pode a minha alma recorrer?

Que seres celestiais devo adorar?

Não me basta já a injustiça?

Não me basta já o meu fardo?

Esmagado pelo peso morto dos fantasmas

Como me posso defender das risadas dos fuzis?

Que pragas devo morder com indignação?

Mas o Inverno que ri como um hiena

E rosna como uma agonia

Acha que o festim chegará na Primavera

Onde todo o sangue secará

E todo o infortúnio agonizará

Sufocado por risos... de papoilas loucas...

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