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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Corpos insanos

Sirvo-te a minha ausência numa travessa enfeitada

Com cortinas de memórias felizes

Quero que me bebas como um licor feito de gestos vazios

Ou como um percurso

Que fazes diante de um espelho desfocado

Bebidos os vinhos espirituosos em noites ácidas

Deitados sobre o fumo

Que atravessa a loucura extasiante dos corpos despidos

E das noites em que agonizámos

Na hesitação das labaredas que nos consomem.

Deitamo-nos agora nas ausências de floridas claridades

Gravadas na areia... imóveis como velas apagadas

Areia onde os sonhos dos pássaros

Mergulham em gelatinosas essências afrodisíacas

Porque nós percorremos outros caminhos

Caminhos onde teremos que imobilizar os nossos pés descalços

Em que teremos que mergulhar

Nas ausência da nossa alma despida

Cheios de inutilidades feitas de gumes aguçados

Para que nos desça pela garganta

O adocicado sabor dos nossos corpos insanos!

Caixas de vida

Enchem-se os corpos de desenhos

Que vigiam os astros

Verga-se a vigília num sopro de vento

Transparecem estrelas sequiosas de luz

E os sonhos... são sereias húmidas

Que lêem os dias com sede de corpos rasgados

Imensas velas feitas com alucinações

Procuram as ilhas encantadas

Jangadas navegando em memórias carbonizadas

Sonhos de fotos apagadas

Caixas onde guardamos o frio de uma vertigem

Sede de velhice sobre águas paradas

Veleiros brancos bebendo absinto em garrafas embriagadas

Tudo cabe na palma da mão

Todos os países e todos os inchaço

Todas as facas e todos os lumes...tudo dá à costa

Inclinada...rochosa...batida por ventos

Que empurram os medos sobre a aragem fugidia

Peçonhenta teia de fumos brancos

É esse o tempo que demora a vida

Que cai num rosto que navega num golpe de mar...

As sílabas inúteis

Ausentas-te da claridade

És a sombra crepuscular de um espelho em branco

És o pássaro ácido de austera ausência lunar

És a viagem que agoniza num cálice delirante

O teu corpo colorido ensombra os caminhos que levam aos sonhos

Mas eu já não sonho

Sou a ausência de uma claridade em sangue

Um nómada carregado de ventos em queda livre

Sou como o canto gregoriano do crepúsculo

Que hesita em fazer o gesto que se gravará no teu corpo

Mas que te procura dentro do sono aflito das sílabas inúteis...

 

Numa remota praia

Chegam os dias feitos de areia vermelha

Chovem pedras raras sobre as nossas mãos

Flores flutuam no que ainda nos resta dos sorrisos

E desconhecemos o nome dos frutos

Que explodem de encontro às paredes vazias

Talvez surjam mapas envenenados por estradas desertas

Talvez as cidades cuspam fogos fátuos

Talvez sejamos mais que uma pétala sem nome

Mas somos ecos imprimidos sobre dias feitos de papel molhado

Somos os olhos verdes da infância

Ou uma explosão de textos assassinados

Penduramos fotos nas paredes

Para disfarçar as frestas que o tempo nos impõe

Somos um mapa metálico com reflexos de águas ferrugentas

Somos o que resta de todos os sonhos que os pássaros debicam

Encantamos a vida num enorme cansaço sem sentido

Imprimimos a nossa sombra num eco extasiado

Somos o nosso próprio rosto

Que cospe fogo...que se encanta com as serpentes

que se esconde em conchas vazias...

Numa remota praia sem nome!

Lágrimas felizes

Rostos feitos de estrelas

Espreitam pelas frestas dos espelhos partidos

Constelações de pássaros debicam manhãs de sal

E os quartos despedem-se dos suores nocturnos

Enquanto a cidade de veste para um novo dia

Sentimo-nos leves... impesáveis

Saltamos sobre todos os rostos

Traçamos percursos de pólens lívidos e refrescantes

Somos paisagem e máscara

Peso que levita perante um sol frio

Olhos...beijos...chuva alucinada

Tapete voador feito de luminescências

Fugimos das chuvas que derretem

O rímel das longas pestanas

Somos pássaros feitos de paredes caiadas da branco

Alentejo nocturno pintado de estrelas

Que saltam pela planície...crescemos...somos voos ressequidos

Povoamos as manhãs com os nossos corpos segredados

Eu dentro de ti...e tu... em flor

A explodindo numa chuva de lágrimas felizes.

Lábios nocturnos

A penumbra avança

Sobre os teus lábios marcados pela fresquidão da neve

Que te pinta o rosto

Com paisagens feitas com pedras brancas

E tu és a ventania

Que diante de um espelho se dilui como chuva enigmática

És o inesperado aconchegar de uma pele fresca

Que levita num dia frio

És os noturnos lábios

Que desejam as estrelas que brilham nos meus olhos

Enquanto que eu...

Sou o pássaro irreconhecível que vive dentro do espelho

Esperando que desças dos telhados da noite

Para que as tuas pálpebras voem ao meu encontro

Como aves sem despedidas

E eu possa ver os teus olhos abertos como conchas

Onde brilham algas e claros caminhos

Que derrames sobre mim

Os segredos que não podes guardar

Para que eu seja o bosque onde te perdes

E explodes de prazer!

Memórias de setembro

Perco-me na memória desse setembro

Que cresceu sobre um campo de flores lívidas

No chão...

Migalhas de folhas que caíram da noite pintam a paisagem

E eu pergunto a essa noite enigmática.

O que resta de nós?

O que cresceu em nós?

Que perfumes ainda nos aquecem os rostos ressequidos?

Que constelações de pássaros

Sentem os nossos desejos?

Se em cada flor

O pólen nos chama com sorrisos de dedos tacteantes

Também há peixes geográficos

Que nos mostram as cidades feitas de cera

E nós queremos percorrer essas ruas astrais

Queremos tocar esses espelhos diluídos

Queremos ser a cal

Que explode numa vermelhidão de peitos ofegantes

Queremos ser manhãs de chuva e insónia

Queremos saltar do aquário

Onde os pássaros vêm beber gotas de cera líquida

Queremos traçar constelações num céu irreconhecível

E os nossos olhos...

os nossos olhos repletos de arrepios

Repletos de sangue frio

Sangue que espera o beijo de fogo

Aquele beijo que dilui todos os segredos

Como se fôssemos seda transparente

Que levita em torno dos nossos corpos

Cravejados de ventanias

E onde as pálpebras abertas ao sonho luminoso

Traçam penumbras de cerejas

Espalhadas sobre a cama desfeita pela noite!

As meninas da Universidade Nova de Lisboa praticam a segregação social

Inicio o ano de 2023, com uma critica social. Gostaria mais de iniciá-lo com um texto alegre, mas não posso deixar passar em branco, o desabafo de alguém que frequenta a Universidade Nova de Lisboa.

 

Sinto-me triste que nos dias de hoje exista numa das melhores universidades portuguesas, uma espécie de clubite social. E o mais caricato é que na era da comunicação, há alunas universitárias, altamente inteligentes e educadas, que se recusam a comunicar ou a cooperar, com outras alunas que não tenham as mesmas origens. Refiro-me à Universidade Nova de Lisboa e concretamente ao sector feminino.

A Universidade Nova de Lisboa é uma universidade elitista, não é por estar situada na zona de Cascais é porque as alunas fazem da sua pretensa origem superior, uma divisão de classes. Grande parte das meninas que frequentam a Nova ou vêm dos Salesianos ou do S. João de Brito, só para dar dois exemplos. Meninas inteligentes, educadas e com altas notas, mas declaradamente elitistas. Estas meninas, formam grupos fechados consoante o colégio de proveniência, e não têm sensibilidade para cooperar ou até conviver com outras raparigas que não pertençam ao clã. É muito difícil estudar numa universidade tão exigente sem se ter um grupo, já não digo de amigos, mas um grupo de entreajuda. E até parece mentira que ninguém se lembre que muitas raparigas se sentem desajustadas, principalmente quando passam do secundário de uma qualquer povoação do interior e desembocam naquele ambiente onde as classes sociais se separam por uma questão de estatuto. As meninas não compreendem que um dia terão que lidar com um alargado tipo de pessoas,e não vão passar a vida a conviver com o seu grupinho universitário. Nem percebem que podem alargar os seus horizontes ao conviver com colegas de diferentes estratos sociais. Penso mesmo que a reitoria deveria consciencializar todos os alunos e realizar um programa de boas-vindas aos entram pela primeira vez na universidade, para que as alunas/os se conheçam e quem chega se sinta acolhido. Não querendo copiar os americanos, mas há universidades na América, onde se realizam espectáculos de boas-vindas aos recém-chegados.

Curiosamente com os rapazes da Nova isto não acontece. Os rapazes socializam e não criam grupos, nem se separam por classes sociais.