Perco-me na memória desse setembro
Que cresceu sobre um campo de flores lívidas
No chão...
Migalhas de folhas que caíram da noite pintam a paisagem
E eu pergunto a essa noite enigmática.
O que resta de nós?
O que cresceu em nós?
Que perfumes ainda nos aquecem os rostos ressequidos?
Que constelações de pássaros
Sentem os nossos desejos?
Se em cada flor
O pólen nos chama com sorrisos de dedos tacteantes
Também há peixes geográficos
Que nos mostram as cidades feitas de cera
E nós queremos percorrer essas ruas astrais
Queremos tocar esses espelhos diluídos
Queremos ser a cal
Que explode numa vermelhidão de peitos ofegantes
Queremos ser manhãs de chuva e insónia
Queremos saltar do aquário
Onde os pássaros vêm beber gotas de cera líquida
Queremos traçar constelações num céu irreconhecível
E os nossos olhos...
os nossos olhos repletos de arrepios
Repletos de sangue frio
Sangue que espera o beijo de fogo
Aquele beijo que dilui todos os segredos
Como se fôssemos seda transparente
Que levita em torno dos nossos corpos
Cravejados de ventanias
E onde as pálpebras abertas ao sonho luminoso
Traçam penumbras de cerejas
Espalhadas sobre a cama desfeita pela noite!