Os sentimentos
Levantei-me cedo e entrei na espessa manhã brumosa
Nada me segue...nem a minha sombra
Saboreio esta liberdade
E sento-me no paredão junto ao rio
Procuro encontrar-me nos olhos dos que por ali passam
Mas...nada...silêncio...sou invisível
Dedico o meu desprezo pelo frio...à divagação
Penso no universo...nos sentimentos...na matemática
A matemática ...sóbria
Explica-me que é do tamanho do Universo
Que não tem tamanho
Mas que também é do tamanho dos sentimentos
Que também não têm tamanho
Assim podemos estender sentimentos
Como quem estende uma passadeira vermelha
Que todos podem pisar
Milhões e milhões a podem pisar
Podemos pôr a secar em todos os estendais
Sentimentos molhados pelas lágrimas
Podemos colar sentimentos no lugar das folhas caídas das árvores
E esperar a sua floração na Primavera
Podemos abrir a estrada em sentido inverso
E mendigar os sentimentos esquecidos
Ah! Parasitas de carícias que são os sentimentos
Que dão razão aos suspiros e espantam os sádicos
Que acordam os intratáveis e os delicados
Que detestam os inconvenientes e os sóbrios
Que alteram a luz e o movimento
Que suspiram pelos mártires
E nunca se extinguem
Porque eles são audazes
E nunca se dão por vencidos...