Agonia
Na agonia da noite
O meu grito rasga os tentáculos do mundo
Afasto-me das luzes da cidade
E vou implodir sozinho num descampado de estrelas
Enquanto as varandas se povoam de flores acústicas.
Sobem-me à boca marulhares de desejos
Enigmas alucinados...tempestades tropicais
Um rosto desprende-se do vazio marítimo do horizonte
Sobe à enxárcia sulfurosa da noite
Distende-se num orbital afago de maresia
E no coração do sonho
Toco a infindável paisagem das marés.
Quero afagar a beleza arquitetónica da névoa
Que cobre a espuma alada das ondas
Essa névoa sem futuro nem caminhos
Onde os filhos do mar se distendem no bafo da luz
Como paisagens marítimas
Que se suicidam
No sonho alucinado da imaginação.
Erguem-se de mim eternos sonos
Escancarados na lava contaminada
Por restos de tempos obscuros
São ausências que se perderam
Na claridade suicidada do barro
E nas falésias desse sono
Os espelhos tecem sonhos de mel e pedra
O coração esvazia-se
Como um peixe-lua envelhecido
Mas ainda aqui está afável e aberto
A todas as ternuras.