Aromas
Há sempre um outro além
Uma outra humidade magoada pelo teu silêncio
Há sempre uma insónia
A espreitar pelas frestas magoadas do tempo
Há sempre mais uma rua
Onde o musgo revela os teus segredos
Há sempre um lugar tranquilo onde os pinhais não ardem
Há sempre uma caligrafia inacabada
Uma pequena letra que bebe a destreza das mãos
Há sempre um interior em cada traço da alma
E uma via láctea encardida
Há sempre um gemido multiforme
Um apóstrofe de ti...uma debandada de imagens
A correr...a correr pela estridente via lunar
A buscar especiarias de sangue e fel
A despertar na psique da terra
Como um rumor de espera sem lugar nem tempo
Como uma varanda
Onde as aves se deitam com olhares loucos
E o lume aceso... a tez queimada
O sino apologético que te chama para a batalha
E a mão que transmite o calor da carne
Aquecida pelas hélices do sol
E o poente a dividir ao meio os corpos longínquos do mar
A fulminar as trevas que se entreabrem na noite
Como cataclismos...como festins opacos
Como flores que se espalham pelos dias escuros
Mas...no silêncio há aromas
Que sobem...que vão subindo...como bolas de sabão
E de Vida.