Ausência
Já não sou a caneta
Que te descreve nos meandros da noite
Já não sou o fruto comestível
Que assolava o teu corpo
Minguei num tempo de fogo
Um tempo baço e devorador
Sou como uma sombra
Enterrada no orvalho da memória
Mas trago ainda comigo as cores das mariposas
Ainda sinto o aroma da tua pele
A planar na maresia das tardes
Dentro de mim ainda adormece
O teu cheiro de estonteante verdura
Ainda sou o marinheiro
Que vencia o desvario dos teus mares
Da minha máscara
Ainda escorre a tinta húmida da saudade
Ainda devoro o tempo
Em nos deitávamos na beleza do orvalho
Hoje...imobilizo a minha memória
No recanto sombrio da tua ausência
Hoje...o meu tempo é áspero
O meu dia é uma catedral vazia de fé
Porque tu foste procurar a ânfora
Onde te pudesses esconder de mim.