Candeiro
Alma em gestação permanente
Nascida da música que se desfaz na noite
Ritual antigo de silêncios mastigados
Teia de aranha murmurando a sua posse
Estendendo as quelíceras
Veneno adocicado pelo pólen do tempo
Doçura de mulher emergindo da chuva
Desfilando pela paisagem inerte
Balançando sobre mim
Como um pêndulo aquático
Ampliado pelo som das pernas
Que criam harmonias de prazer
Que desaguam suavidades
E dentro de mim nascem
Mundos habitados por grandes céus escarlates
Luminescentes por fora...cegos por dentro
Misturas de pó feito de loucuras
Que acreditam nas sombras do tempo
Engelhado...desfigurado
Pelas páginas de uma história que balança enroscada
Nas mãos sem eco...desafinadas
Sem forma de encontrar a luz
Escura maresia que mastigas os corpos
Que refrescas posse desses corpos
Como abelhas acumulando mel
Numa agonia de barco infeliz
Que desfila num chão descolorido
Como se o mundo fosse um esguicho magro
Que dança numa teia sem idioma
Onde o silêncio é um candeeiro
Esquecido sobre si mesmo
Alumiando-nos sofregamente!