É o mar que nos espera
Éramos tão felizes se perdêssemos a memória
Se as palavras se apagassem
Se as mãos girassem em redor de um corpo em êxtase
Um corpo vencido pela luz
Como uma música incandescente
Envolvida num profundo incêndio
Seria um queimar de alma
Um esventrar de coxas sedosas
Um grito de uma mulher incendiada
Em vez de ar...seria tempestade
Mar revolto...abismo em chamas
Fronteira que flutua num lago feito de cavalos selvagens
Lago construído gesto por gesto
Como o flutuar redondo de um ar arrepiado
Luto de mão molhada pela chuva
Frente a frente...o choro
As teclas de uma vida tocadas em silêncio
Quem quer chorar nesse rio feito de barro
Nessas margens incapazes de capturar as águas
Onde incêndios convalescem moldados pela nossa mão
Formam montanhas de peitos abertos ao delírio
Profecias rasgadas...olhos ao vento
Pesadelos leves como folhas tempestuosas
Flutuantes como sexo etéreo
Há qualquer coisa num segredo sonhado
Algo que se coloca em nós
Algo que estanca a vontade de enterrar a própria terra
E nos faz sentir a vulcânica temperatura
Terror de chuva afundada na lama negra
Barro feito de braços longos
Incapazes de escavar mais a vida
Chega-se ao fim do pontão
E é o mar que nos espera!