Rosas fumengantes
Envolve-me a teia tecida pela imaginação
Abrigo-me nos restos das flores
Sou um sobrevivente de mim
Poros invisíveis pintam telas de mármore
Onde se refletem incêndios de migrações descoloridas...
Como cavalgadas de trevas sob o sol estático
O mundo coloriu os olhos das serpentes
As flores bebem o infinito
As ondas sibilam...a espuma indica o sul
Psicadélicas estrelas desfazem-se em olhos esfumados
Sento-me virado para ti
Espero...desejo que flutuemos
Num lago cheio de sítios perigosos
Nos baixios de lama invisível
Vigio a tua pele
Apago-me junto ao teu corpo
Assalta-me o esquecimento da terra
Sou um resto de mim
Mas deixo num rasto de mim.
Um corpo em comunhão incendiada
Aflito rasto de sedas ferrugentas
Globo terrestre sorridente
Enfastiado pelos dias putrefactos
Que enegrecem os corações
Escuto murmúrios de cinzas gotejantes
Tudo me passa pela cabeça...
Tudo se apaga numa água dourada
Crepuscular incêndio
Que navega numa lata pintada de azul cobalto
Escondo-me na circulação do corpo
Os meus lábios purificam a tua pele...boca...boca
Desejo ser um sol cobrindo os teus olhos
Calcinando os teus medos...bebendo-te
Cegando-os numa ternura de cidade incendiada
Ou num sono de sonhos rasgados
Circulo por ti sobre um chão coberto de algas
Ouço ao longe os sons sincopados de um sax tenor
Tempo plastificado...inerte
Dobrado sobre mim com a força de um solo de Hendrix
Tempo que geme nos tremores de sílabas alimentícias
Sangue empastado com palavras turvas
Murchas pálpebras cobertas de espuma prateada
Tudo me puxa para a vigília
Tudo me encerra
Num respirar tatuado com as luzes da loucura
E tu..beatificamente segues alheada
Sentada numa nuvem feita de rosas fumegantes!