Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Quarto de criança

Corro à frente do tempo

Sou a foto ténue da infância

Uma casa que desliza rente ao meu reflexo

Como algo que nunca vejo

Ou um espectáculo a que nunca assisto

Acendo a luz e cresço

Atravesso o meu corpo

Deslizo num mar de ironia...ouço-me rir

A chuva não me incomoda...estou alegre

Aromas acolhem-me numa jarra branca

Onde os insectos matam a sede

Pequenas folhas de trevas..soalhos misteriosos

Desolações de presenças inalcansáveis

Reflexos solares...penumbras angustiantes

Sou inacessível como um olhar desprendido das coisas

Uma porta secreta...um pressentimento

Escolho ser uma maré

Que se acende com o meu reflexo

Um ouvido que me escuta

Uma parede onde se perdem as horas do medo

Estico os braços e toco nas aves em voo

Escolho uma para me acompanhar...uma ave verde

Vertiginosa...não a conheço

Rente à minha memória perpassam as chamas de alguém

Cinzas inacabadas...escuras

A geometria correcta das paredes incendiou-se

Pressentiu o fim da penumbra

Aprendeu a ver o caos

Os móveis estalam com o calor abafado do silêncio

Ecoam em todos os ângulos...

Perco-me de mim ...pergunto pela saída

Tacteio o escuro...

Dentro de mim ardem insectos esfuziantes

Aprendo que a desolação é uma mancha de sangue estrangulado

Uma asa ténue coalhada no silêncio

Um corredor debruçado sobre mim

Que me enche de imagens cansadas

Sinais de fachadas meticulosas

Luzes perfumadas...dolorosas despedidas

Pequenos recantos onde me resguardo

Nada resta das imagens espojadas nos espelhos

Nada fica das luzes assombradas...

Sal...sal na chuva...sal na entrada das casas

Sal nas paredes...sal nas camas insossas

Desenhos a carvão respiram saúde

Encontram as rotas perdidas...mares secretos

Enquanto alguém se afunda numa chuva inocente

Como um quarto de criança ao entardecer!