És a minha salvação
Perfeita é a catástrofe que gera o mundo
Largos são os caminhos onde já passei
Os dias eram meus...
Mas deixei-os noutro lugar
Talvez se encontrem agora nas areias
Talvez sejam mitos inacabados
Esperanças? Certezas?
Nada encontro dentro deles
Sigo a minha memória.
Encontro lugares esquecidos
A casa pequenina...a esperança
Vejo o olival inclinado
O luar assustado pela escuridão do rio
Deixei cair longe a minha herança
Na minha pele nascem plantas
Como estilhaços de pétalas acesas
Feridas profundas
O passado fragmentou-se em fotografias descoloridas
Sorrio...não me queixo
Tudo o que possuo são memórias dos dias
Em que o futuro ficava tão longe...envelheci
Tenho agora as mãos povoadas
Por pequenos fragmentos de letras
Espalhadas sobre o teclado
Grandes histórias de recomeços
Jogos de morte...heranças de feridas apagadas
Sombras crescem sobre os canaviais
Regresso ao amanhecer
Perdi a noite...envelheci mais
Agora vagueio sobre uma inútil pele cansada
Caminho sobre um luminoso raio solar
Despeço-me de ti...abraço-te...quero-te
Nada mais posso fazer
Retorno sempre a ti...
És a minha salvação!