Cadernos vazios
Acumula-se o pó sobre a primavera
É a noite dos escaravelhos lunares
O crepúsculo dilui-se atrás de nós
A cidade ilumina-se com o brilho das lâminas
Rebentam vozes...riscam-se as pálpebras
Os sonhos envolvem-se em crueldades aflitas
Caem sobre nós farrapos de algodão
Neves bêbadas...suores estranhos...beijamo-nos
As sombras diluem-se num sorriso de marfim
Amanhece nos buracos cruéis dos néons
A sujidade das ruas é um labirinto estreito
Um futuro incerto...um passo trôpego
Bebe-se vinho...engana-se a boca
O luar abraça-nos...reencontamo-nos
Fuma-se erva e come-se capim
Suspiramos como imensos interiores desabitados
Os ombros são colunas magnificas
Sombras sensuais
Evasão de manhãs roubadas ao sono
Peito aberto ao desejo
Fazemos promessas..enganamos
Somos o circo húmido...fenomenal...arriscado
Não temos datas
Os dias riscam-se como letras em cadernos vazios
Dos nossos dentes saem mordidelas
Imensas malícias amanhecem...escondemo-nos
Escondemo-nos até que a nossa pele se cole ao peito
Delapidadas ruínas de sonhos
Testas escarlates...escuros imobilizados
Enganos...misticismo inocente
E através da janela partida
Espreitamos a serra abandonada
Somos livres!