Em cada homem há uma dor
Para onde quer que olhes vês uma imagem
Um irrefletido écran paranoico
uma patine terrosa
Na cidade fresca sentas a pele coagulada
Adormeces sob um alarmante meridiano
Secretas ruas acompanham-te
Lâminas de suor escorrem da febre..é a insónia
Há um homem em cada dor
Uma saída em cada buraco
Um cheiro falso a naftalina
Estás morto
A tua decomposição tem ciúmes dos corpos esbeltos
Nos prédios lívidos
Escondem-se madrugadas fascinantes
Gritos grisalhos ecoam na lividez das ruas
Memórias ensanguentadas
Crescendo em direcção ao pânico
Fogo preso ao fundo do rio
Por debaixo da cidade há uma pele escamada
Um peixe metálico...uma criança armada
Preso ao fundo do copo há resquícios de vinhos
Afrodisíacos alarmes
Mãos que fustigam o sexo
E dos quartos saem portas
Usam-se torniquetes
Torturam-se noites de inconsciência
E rebentam as águas paradas nos canos ferrugentos
Saltam faíscas das paredes
Aranhas de prata doirada entediam-se nas teias
Os insectos fugiram
O esperma eclodiu
O soalho mergulha no silêncio
Os pulmões enlouquecem
Há memórias em todos os lençóis
Fomos um bordel antigo espreitando para além de nós
Demos uso ao nosso corpo
Nascemis... renascemos como um dia de fome
Fomos uma maré vazante
E com um suave mergulho na seda aveludada
Desmantelámos todos os silêncios
Por fim... calámo-nos
Como lobos satisfeitos
Ou como tigres amansados!