E veio o esquecimento
Alastrou como uma dor inútil...circular
Invadiu as paredes
Os ventos e as algas
Tal como veio de ti um sopro abafado
Encolhido num mergulho encarpado
Queda vertical no medo...água adocicada
Recanto vivo de uma chuva lancinante
A noite ressoa nos teus fulgurantes passos
Barcos acostam..feridas abrem-se
do interior das pedras nascem corações floridos
Da noite emergem sussurros
Sonho de peixes desenhados nas paredes
Vivos...vivos como navios que se arrastam
E lestos arrasam os mares.
Agitam-se pássaros desconhecidos
Sombras ardendo por dentro da noite
Falta-me o sono para tanto delírio
Quero um corpo líquido
Uma medusa viva...quero invadir uma casa
Levar o meu corpo para a tua cama
Sair da soturna noite
Fingir que não estou só
Quero acompanhar o movimento cíclico do vento suão
Quente abafo...interior vivo dos sonhos
Quero alarmar as rotas
Com a minha bússola desconcertante
Sem norte nem medo...sem rua
Quero inclinar as árvores
Com o meu sopro de gaivota ferida
Com a minha estreiteza de luar
Dormir...dormir dentro do calor das pedras
Ser como um descansar de redes
Infestadas por vozes aflitas
Tu...aflita...eu..pássaro que vive do teu corpo
Que pernoita na chuva lancinante
Que bebe nas tuas palavras
O acender de um sol líquido
Suco transparente...ressaca de desejos
Os peixes chegam a mim
E perguntam onde tenho descansado
O que tenho bebido...não sei
Sou apenas uma seiva que se levanta
Que ecoa pelas sombras navegáveis...que deriva
Sou o pássaro que seca a asas nas dunas
Que vive de frutos silvestres
Frutos sem rota certa
Quedas circulares....cascatas
O linho branco espreita através dos lençóis bordados
E no lamento do mar escuto o sol
Vejo a rua...espreito o silêncio
Sou a luz que luta comigo
Numa imprecisão de recantos escuros...arrastados
Como uma pérola adormecida
Sobre uma idade sem retorno!