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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Imprecisão

E veio o esquecimento

Alastrou como uma dor inútil...circular

Invadiu as paredes

Os ventos e as algas

Tal como veio de ti um sopro abafado

Encolhido num mergulho encarpado

Queda vertical no medo...água adocicada

Recanto vivo de uma chuva lancinante

A noite ressoa nos teus fulgurantes passos

Barcos acostam..feridas abrem-se

do interior das pedras nascem corações floridos

Da noite emergem sussurros

Sonho de peixes desenhados nas paredes

Vivos...vivos como navios que se arrastam

E lestos arrasam os mares.

 

Agitam-se pássaros desconhecidos

Sombras ardendo por dentro da noite

Falta-me o sono para tanto delírio

Quero um corpo líquido

Uma medusa viva...quero invadir uma casa

Levar o meu corpo para a tua cama

Sair da soturna noite

Fingir que não estou só

Quero acompanhar o movimento cíclico do vento suão

Quente abafo...interior vivo dos sonhos

Quero alarmar as rotas

Com a minha bússola desconcertante

Sem norte nem medo...sem rua

Quero inclinar as árvores

Com o meu sopro de gaivota ferida

Com a minha estreiteza de luar

Dormir...dormir dentro do calor das pedras

Ser como um descansar de redes

Infestadas por vozes aflitas

Tu...aflita...eu..pássaro que vive do teu corpo

Que pernoita na chuva lancinante

Que bebe nas tuas palavras

O acender de um sol líquido

Suco transparente...ressaca de desejos

Os peixes chegam a mim

E perguntam onde tenho descansado

O que tenho bebido...não sei

Sou apenas uma seiva que se levanta

Que ecoa pelas sombras navegáveis...que deriva

Sou o pássaro que seca a asas nas dunas

Que vive de frutos silvestres

Frutos sem rota certa

Quedas circulares....cascatas

O linho branco espreita através dos lençóis bordados

E no lamento do mar escuto o sol

Vejo a rua...espreito o silêncio

Sou a luz que luta comigo

Numa imprecisão de recantos escuros...arrastados

Como uma pérola adormecida

Sobre uma idade sem retorno!

Cancioneiro Joco- Marcelino - Marcelo é bom bailarino

Com este poema termino a publicação de uma série de textos de Natália Correia, dedicados a Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa e que, no fundo, também é uma caricatura da sua actual Presidência da República:

Marcelo é bom bailarino

 

É entrar, venham ver a maravilha

das variedades da feira marcelina!

e entre atracções à escolha a que mais brilha

é de Marcelo a fúria bailarina.

 

Do tango ao rock do chá-chá-chá ao samba,

dançando a valsa como quem flores pisa,

baila Marcelo até na corda bamba

e os alunos de Apolo inferioriza.

 

Topa, enfim, de cavaco o mafarrico

ao dernier cri da dança uma golpada:

rebolar-se no novo sassarico

para no partido andar tudo à lambada.

 

 

 

Desafio dos 50 - resposta ao pedido da im

Temos 50 anos e estamos a meio do mundo. A meio da idade. A meio de nos lembrarmos da infância. Temos 50 anos e estamos no limiar da porta. No nascer do dia. Esperando o insensível entardecer. Usamos óculos. Apreciamos vinho. Gostamos de passar a mão pela cabeça das crianças. Talvez seja a nossa vontade, ou a nossa recordação de um tempo de ilusões. Aos 50 anos já sabemos pedir desculpa. Já sabemos que a vida não se faz com guerras e que no nosso comportamento reside o comportamento dos outros. Aos 50 anos ainda escorregamos na “casca da banana”. Ainda nos emboscamos em atrevidas filosofias. Ainda esmagamos o relógio da vida. Aos 50 anos já sabemos o que é a generosidade. A compleição física do amor. E procuramos não ligar à cinza da maldade. Também já não nos escondemos em perdões sem sentido. Gostamos de chá e torradas. E franzimos o sobrolho às coisas desagradáveis. Temos a espontaneidade dos generosos. Não nos arrependemos dos nossos “pecados”. E até nos convencemos que mais vale um sorriso que ligar a olhares idiotas. Não achamos piada a graçolas. Gostamos de abraçar e que nos abracem. Ainda sussurramos ao ouvido do amor. Ainda estamos na flor da vida. Ainda respiramos fundo. Às vezes só queremos secar as lágrimas. Outras vezes rimos desmesuradamente. Não temos paciência para sermões. E só precisamos de tomar um duche quente ao fim do dia...para depois...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Arrepio

Próximo de ti está o horizonte insatisfeito

Está a fascinação...os tresloucados olhos

Abre-te...usa as estrelas como um tecto transparente

Iluminações de cristal...corpos azulados

As cartas estão marcadas

O interior do teu mundo

Fechou-se no topo de uma duna...fascínio

O céu engasgou-se...

Dentro dele vivem anjos delirantes

O sangue escorre das nuvens...há guerras

O mundo é um horizonte infinito

Uma janela sem portada

Uma mancha imposta aos olhos

Os homens são vagas que dão à costa

Velas enroladas...seda indiana

Das pilhas de sal saem corpos alucinados

Os tectos esbranquiçados...suportam portas loucas

Não há nada mais espesso para o Homem

Que um céu rasgado...uma mancha na camisa

Um dentro sem fora

Como conhecer a Verdade?

Onde fica a chuva que não cai? Que temer?

Se no tamanho dos dias

A nossa pele jaz arrepiada!

Cancioneiro Joco- Marcelino - O ambidextro

Nos próximos dias vou publicar uma série de poemas de Natália Correia, dedicados a Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa e que, no fundo, também é uma caricatura da sua actual Presidência da República:

O ambidextro

Da marcelíada o variegado herói,

nova gesta alfacinha o arrebata:

das ruas escalavradas se condói

e de enfermeiro da urbe veste a bata.

 

Noite fora, coluna massacrada,

olho ávido posto na eleição,

padre-operário da Lisboa (nação) esburacada

junta Marcelo gravilha e alcatrão.

 

Com uma das mãos, caritativo estro!

das ruas tapa os hórridos buracos;

com a outra, o maroto do ambidextro

esburaca o PSD para o pôr em cacos.

 

Arrepia-se Anibal com o embuçado

tingido de escarlate Pimpinelo

e contra a mascarada solta um brado:

 - Fora com o gajo que ele é foice e Marcelo!

Viver

Caminhamos como letras sobre páginas e páginas

Infinitas páginas negras...sentenciais

Voltamos o olhar para a parede ensanguentada

Empolgante...pintada com manchas de luz

Coágulos de mãos enrugadas

Tectos esquecidos...vómitos...visões

Visões que não cabem dentro de nós

E as nossas portas e janelas

Não chegam para as albergar

Despejamo-las como pilhas de papel pardo

São visões pardas...lançando pardacentos odores

Odores que fogem dos corpos

Aflições de mundos interiores

Fascinações enevoadas

Quem temes? Que noite te chuviscou?

Que pingos de água caíram dentro de ti?

Tudo é caminhar e envelhecer

Arranca do corpo todos os compromissos...vive...

 

Cancioneiro Joco- Marcelino - Batma(n)rcelíada

Nos próximos dias vou publicar uma série de poemas de Natália Correia, dedicados a Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa e que, no fundo, também é uma caricatura da sua actual Presidência da República:

Batma(n)rcelíada

Sempre sôfrego do último modelo,

pela batmania agora cego,

deixa de ser taxista e eis que Marcelo,

troca o volante por asas de morcego.

 

Batmaníaco bate Marcelo a asa

e, voando para o trono de Lisboa,

já em gula monárquica se abrasa

e ao PPM vai pedir a coroa.

 

Mas, ó vampiro afã de comer tudo!

ao envergar de Batman o fato

grossa partida prega-lhe esse entrudo

e mais parece Marcelo  o Nosferatu.

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