Regresso de um tempo sem fundo
Luminosa lágrima que escorre da luz
Regresso ao tempo do meu corpo
Às feridas azuis
À fala tenra das ervas
Pergunto pela maresia que coalhou na poeira
Que se tornou eterna...esquecida
Pergunto pelo tempo dos cães...pelas crenças
Pela morte que se esquece dos dias
E sei que há caminhos infindáveis
Passos impossíveis...círculos doirados...dores
E sei que as palavras cortam a direito
Que as portas são eternas
Que a infância é um poço.
Lavo-me de todas as coisas
Como uma ave que canta
Sobre uma paisagem coalhada
Abasteço-me de veneno
Regresso às dunas feridas
Mergulho na morada dos ventos
Estou em todas as direcções
Guardo os meus passos para melhores dias
Errantes dias onde me abasteço de ti
Ato-me ao tempo
Seguro as horas no corpo
Gasto-me numa alucinação selvagem
Bebo a giesta que coalhou no teu rosto
Flor amarela...doce enjoo...
Da minha boca saem colunas de fumo
Templos de deusas desertas
Desertas-te?Desertei!
E sentei-me perante a fúria das mãos
Sulcos de vida...cruzamento de mares suicidas
Hoje vejo passar os caminho
Sinto na pele a paisagem esbaforida...claustrofóbica
Última morada dos ossos
Livro de tempos antigos
Esquecidas luzes que envolvem a noite...
Agora atravesso desejos
Ergo-me nu perante os desertos
Cumpri o mapa estelar
Já não volto ao peito frio...inoxidável
Da escura luz que mata na noite
Sai o silêncio cansado
De alastrar pelos dias inúteis!