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O pónei branco e o pónei
negro
a simplicidade da beleza.
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O pónei branco e o pónei
negro
a simplicidade da beleza.
A beleza azul da hortênsia
aproxima-a do
céu.
Pela janela espreito
o lusco fusco da
alma.
Nunca de mim saí
Nunca me desenhei
Todas as minhas formas
São presságios de sombra e de lua
Todo o meu sentir
Não passa de um sinal inscrito no destino
Todas a minhas palavras
Pertencem à mitológica sombra das verdades
Mas eu não sou mais que uma onda
A aportar a uma praia deserta
Não sou mais que um penedo
A apontar para a descrença dos céus
O tempo não me reconhece
As manhãs são varandas de silêncio
O tempo é um labirinto onde me perco
E a sombra que projecto nas paredes
É a única verdade de mim.
Inventamos mundos
Somo saltimbancos sem palco
Devoramos a aspereza de uma sorte que não compensa
Paramos a alma...
Entre o que vemos e o que não sabemos
Somos instantes escuros...somos finas terras
Com carnívoros medos.
Tudo em nós voga entre o silêncio e a água dos rios
Tudo se desfaz em torvelinhos de melancolia
Mas não acertamos o passo
Com a música da pauta
Não reconhecemos o engano
De sermos séculos de fome e solidão
Erguemos os olhos e vemos a divisão do nada
Como poemas cruéis...
Dizemos que somos a artéria esculpida dos deuses
E juntamos as cores como pássaros austeros
E corremos atrás da ferrugem das preces
Até que nada nos separe dos céus
Que a custo criamos dentro de nós...
E por mim passam ecos sonhos e estranhezas
E por mim descem grandes vagas de esperança
Mas sou eu que respiro por meticulosos poros
A inclemente força de um vento
Que me traz o ardor do mar
Na minha face se refletem as águas de novembro
Nos meus instantes há uma prisão de desejos
No meu peito há a ressonância de um tempo
Despovoado incontido e lento
E para além de tudo há um baile...uma cavalgada
Um fastio que vive na minha boca de mar exposta ao vento
Que afaga a acidez das grutas
Onde o tempo se apaga..se acaba...
Como o vaivém de uma onda coberta de algas
Como o despedir de uma fonte misteriosa
Como uma faca que corta a lucidez dos anjos
E que me abre o peito com a alucinação plena das horas
Onde me deito...
Já no ar baloiçam as vagas feitas de vidro
Já os meus olhos se desfazem nas dúvidas do mar
Já em mim se cruzam labirintos
Já em mim se desenha o rosáceo abismo das verdades
Gostaria que um sol florescesse em cada chão
Que a minha mão agarrasse a luz das pedras
E as rochas que suportam as anémonas
Se erguessem como colunas de espanto e de silêncio
Se para além do mundo azul das águas
O sonho ousar ser mais que areia
Se o vento ousar ser mais que carne
Então o meu lugar é feito de caminhos e de teias
A rolar...sempre a rolar...
O belo corvo contempla o homem
mas não sabe quem ele
é.
Vejo a chegada da primavera
nas borboletas que se esfregam nas
flores.
Não te percas nessas ruas
Onde o tempo estupidificou as árvores
Não te assustes com a perfeição estridente do caos
Tu és a luz a sombra e a penumbra
Tu és a mão veemente
Que luz no artifício das caras
Junto a ti corre a longa e fina alegria
E também o austero sinal de seres um mundo
Mas tu que também devoras o fogo
E és o contraponto do espaço
Que inventas a dicção poética das coisas
Que corres entre as sílabas e as praias
Ouves esse vasto temporal a luzir no escuro?
Esse temporal que incha o dorso dos navios
E que ressoa para além de todas as estátuas
Como se dedilhasse as cordas leves de uma cítara
Como se corresse descalço pelos calhaus do poente
E se equilibra num breve fio de luz
Inventando as abstrações que iludem os homens...
Sim... tu que és a sombra pequenina
Que ondeias no azulado dos versos
Não te percas....