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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Monólogo perfeito

Monólogo perfeito

Sensação de vazio

A luz foge pelas janelas

Na parede o papel florido

É um jardins sem aves

Um enorme coração desponta no espelho

Vermelho e azul...iluminado

Na relva murcha brincam estupefactos escaravelhos

E tu gritas

Como se fosses um modo de vida

Ou um planeta distorcido..

As estrelas são as que sempre foram

Brilhos estelares que vogam no vazio

E se desmoronam em em cores bravias

Como aves melódicas que não nos conhecem

Nas casas vagueiam pessoas pelos corredores

O mundo desmorona-se e foge de nós

E tu gritas para dentro da neblina

Mas eu já não te ouço!

Despirás o teu coração

Dançamos sob salpicos de luzes

Que caem das árvores

Pingos de sangue derramado

Numa caleidoscopia nocturna

Enfeitam a tela negra da noite

Como pirilampos metálicos

Noite latejante de verão

Onde a floresta se ilumina

Por detrás de uma fachada de fogo.

 

Deitas-te sem saber qual a cor dos dias

Sangras palavras diante dos espelhos

Tens asas de libelinha

Voas em todas as direcções

Vives do lado de fora de ti

Ergues os braços

Como se fossem neblinas laceradas por lâminas

Ou como inúteis cores vingativas

Chegarás ao Outono

Ver-te-ei chegar cavalgando uma melodia

Que soprará de um qualquer saxofone

E nos pomares de pessegueiros

Despirás o teu coração

Como se fosse um mundo

Ou um vento imaginado que sopra das flores

Perfumando a abóbada celeste

Com aromas estrelados...

 

 

Abre-se a noite

Abre-se a noite

Como um universo melancólico...

Luzes atravessam o ar

O chão é agora feito de água escura

Relâmpagos varrem as dunas

As rochas parecem fantasmas

E vejo-te deitada no abismo

Onde as ondas rebentam..

Tens os pés descalços

Seguras a espuma com o olhar

As tuas mãos são guelras sôfregas

Respiras pelas mãos

Tocas o meu corpo com o teu sopro

E caímos juntos na noite.

 

Ondulamos na superfície das águas

Luzes lunares tocam-nos o rosto

Somos seres luminescentes

Distantes peixes que correm para o horizonte

Cortamos as marés

Desembarcamos em noites solitárias

Como ridículas vagas que esperam salvação.

 

Enquanto sangramos todas as ondas do sentir

Numa encantada vigília...

A paixão vai-nos queimando

E os mares assombrados

Expelem grãos de areia

Como se nos atirassem estrelas

Vindas de uma profunda aflição

Como num sonho

Como num sonho

Carrego a memória de um pássaro

Que voa sobre o vazio

Das asas pendem pequenos cristais de sal

Lágrimas translúcidas...desvanecidas tardes

Sei que ninguém gosta da impotência da escuridão

Nem dos rios que transbordam

Mas tu deslizas sobre o vento

Deitas-te ao lado das folhas húmidas

És uma uma voz

Podia descer contigo pelas veredas

E passear por entre as tardes amenas

Apanhar banhos de sol

Nadar num lago feito de maresias

Ser a tua pele...sermos a tua pele

Mas a vegetação cobriu-nos

O vento atordoou-nos

Uma parte de nós despenhou-se na bruma

E a ilha que queríamos alcançar desvaneceu-se

Resta-nos a melancolia de um fantasma

Uma dor que se sente só

Uma água branca

O nosso riso rodopia agora

Num infindável poço

Onde os gemidos da água sopram inertes

Mas onde se ouvem repicar os sinos

E as nossas vozes falam

De passados arquejantes!

 

A beleza do entardecer

Pergunto pela luz

Que sopra sobre terra orvalhada

E pelo ar que se eleva do asfalto

Onde se escondem os recantos da memória

Vejo rostos empilhados

Como sentenças a crepitar nas luzes

Sílfides fantasmagóricas

Ligeiros perfumes que fogem dos sótãos quentes

Na rua as árvores apodrecem

Sorrisos salgados abrasam os rostos

Insectos em pose brincam nas folhas amarelecidas

Nem sei se é possível escutar o vento

Ou conhecer a dor de um pássaro tardio

Tropeço na fantasia de uma esquina sombria

De uma sombra quente...a tua sombra

Escuto o crepitar das marés

Onde o teu corpo se afogou...

Também eu me afoguei

Também eu senti a tua pele no perfume das flores

Soube então de ti...

E também soube que não iria atrás de ti

Que te sumirias como uma folha sem sentido

Sem rota nem música

Uma folha presa na garganta

Embriagada de dor

Recuso fazer qualquer gesto

Recuso sentar-me na beira mar

Quero esquecer as conchas

Apenas quero deslizar

Pela recordação do dia

Em que me sentei contigo na paisagem

E nos fomos absorvendo

Como quem bebe a beleza do entardecer...

 

Retenho a tua mão

Toco o teu fulgor

Retenho a tua mão

E na poeira das estrelas

Vejo-me.. ausente!

 

Queria ser um tempo real

Como se corresse em direcção

A uma oblíqua madrugada

Onde uma luz sólida despertasse desejos de vigílias

Ou lágrimas envelhecidas

Pernoitassem nos embaraços da manhã

Luz e mundo desfeitos em sono

Corpos deitados sobre paisagens feridas

Esperança nas altíssimas verdades

Temos que nos recordar da esperança

Conhecer-lhe todas as fissuras e gretas

De onde ela brota

E digo-te que não te afastes

E digo-te que te queimes

No grito que pernoita na memória

Falo-te com carinho

Deixa ficar a tua sombra na paisagem

Resina de corpos...desmaios de luz

O mundo é teu

É teu o magnífico desejo de seres silêncio

De seres a crosta de um tempo circular

Do teu sono nascem países

Crescem húmus...esquecem-se abandonos

Enrubesço...seco

O teu mundo aconchega-se a mim

Mas tu refugias-te na noite...refulges

És o arquipélago onde as lágrimas falam

Triangulares pálpebras que se fecham à luz

Toco o teu fulgor...retenho a tua mão

E na poeira das estrelas

Vejo-me.. ausente!