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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

A minha mão...o teu rosto

Diz-me o que te diz o teu deserto

Diz-me qual o pacto

Que fizeste com a esperança ébria de assombros

Diz-me que queres entender

A noite onde as coisas façam sentido

Diz-me quais são as tintas

Que pintam o teu corpo sacrificado

Diz-me quais são as veredas onde gastas os dias...

 

Mostra-me no teu rosto

A escritura que fizeste com a tristeza

Ai minha ave projectada em luz

Minha extinção de ser dia

Onde começará o teu alívio?

Onde ficará o teu oásis?

Que sol ardente

Queimará as formas felinas do teu corpo?

Queres que chame o encantador de dias

Para fazer de ti uma espada de luz?

Queres que mande trazer

Os bálsamos clarividentes dos crepúsculos?

Queres que a loucura

Aliviada dos invernos te aqueça?

Queres que te erga um sonho

Onde o altivo luar se curve perante ti?

Queres que toque trombetas

E traga aves para te enternecerem?

Tudo farei...

Descobrirei lendas e sortilégios

Sussurros e presságios...

Ciclos de tempo...incisivas primaveras

Olhares fulminantes

Tudo farei...

Para que essa dor vagarosa

Se feche numa concha

Como se fosse uma lâmpada apagada

E em ti só brilhe o assombro

De um acordar solene

Em que a minha mão suave te afagará o rosto...

 

 

Partamos

Longe de mim ser um santo imaculado

Rejubilando pelos dias tediosos

Antes um diabo...um corpo magro

Antes um excomungado

Antes ter sobre a minha cabeça

Todas as espadas e todos os dramas

Antes ter os dias multicolores...vogar no infinito

Saudar o nascimento dos corações

Antes atirar o meu corpo sobre as flores

Ser naturalmente o vento da manhã.

 

Longe de mim ser um santo imaculado

Benzendo os dias bruxuleantes e danados

Venham a mim as carnes...as fadas e as praias

Os sarilhos e os andarilhos

Venham a mim os que vivem

Venham a mim as sedes

Os infernos...as penas capitais

E todas as capitais de países que invento

Socorrendo-me de um globo rachado

Venham a mim as esféricas mesas sem contornos

Onde nos sentamos bebendo fogo

Venham a mim os luares....os travesseiros

As novas formas de amar

E quero também ervas e alucinações

E deveres incumpridos

Fora com a moral

Fora com as mãos que nos sufocam

Fora com os sagrados deveres....

 

Onde estão as mãos amigas

Que me atiram ao chão?

Onde estão as mãos amigas

Que não me querem amparar?

Onde estão os júbilos astrais

E os carnais...e os ancestrais?

 

Partamos...

Desfraldemos as nossas velas raiadas de auroras

Temos tantas bocas e línguas para descobrir

Tantos corpos amáveis para amar

Suados...despovoados...feéricos

Que não podemos perder mais brisas matinais...

 

Eis que aqui está presente

A glória de ser apenas corpo

A glória de deixar embarcar a alma nesse veleiro

A glória de perder a alma nesse nevoeiro

Baço...gordo...dispensado de luz.

Porque não é precisa luz

Porque tu és a luz...e eu...o diabo mágico

Que te raptará...para o paraíso do pecado

Onde os anjos me chamam santo...maculado...

Não há distância entre nós

Estarei onde estiver a minha alma

O meu espírito...

A minha obrigação de ser

Assentarei as minhas paredes sobre os dias frescos

Dias cheirosos a terras lavadas

Emitirei sons...

Que serão esforços de mim

Que serão teus

E que te chamarão

Para nos diluirmos na noite.

 

Depois... acordaremos

Com os corpos assentes em luzes translúcidas

Cansados...teremos a visão de todas as cores

De todos os cheiros e mistérios

Sentiremos tudo com a carícia do veludo

Seremos apenas corpos...flores silvestres

Seremos como a eternidade

Que vai caindo sobre nós

Como uma chuva enxuta

Lançaremos o nosso coração para longe

Para a primeira luz que aparecer

Porque está escrito

Que a distância que existe entre nós

Se perdeu nas ruelas onde não passámos

E que...já não existe distância...nem ruelas...nem nós

Seremos apenas uma luz

que prescindiu dos nossos corpos...

Seremos unos

Como se estivéssemos numa sombra concreta

E o mundo fosse um resto de dias

Sobras de dias...que já não queremos rabiscar

Porque estaremos lá

Naquele momento delicioso

Em que não precisamos de estender os braços

Porque já estaremos abraçados

Perdidos...e isentos de dor...

 

Porque sou gás

Não me rio quando o céu se abre

Num oceano que passa rente a mim

Não me rio das subtis recusas

Disfarçadas num parêntesis

Questionarei as sombras

Até lhes gastar a paciência

Todos os meus esforços ficarão gravados

Num tempo indistinguível

Porque sou gás

E também porque sou um rio sólido

Que de repente se precipita

Pelos intervalos das palavras

Como se fossem buracos de um passado

Que sem saber como... caiu no Céu

Como se acreditasse

Num deus qualquer que lhe passe à porta

Ou como se fosse uma imagem

Que analisa com uma lupa subtil

Os recônditos êxtases do coração...

Quem está mal muda-se

Há pequenas coisas, ou coizinhas, que apesar da minha religião ser o "vive e deixa viver",não posso deixar de comentar. Ontem, fez greve a função pública. Um jornalista pergunta a uma grevista se acha que a sua carreira é apetecível. A resposta é . - não! Nova pergunta:- mas é desde há pouco tempo? resposta: - não é desde sempre!

Fica a pergunta, se a carreira é tão má que a pessoa passa a vida a "marcar passo", porque é que em vez de andar a chatear o contribuinte com greves, não abandona o estado e procura trabalho no privado?

De repente bateu-se-me uma coisa na cabeça, é que no privado não existem as regalias do público, e quem está mal muda-se, não faz greves.

O teu olhar?

Gasto-me como se fosse uma nuvem

Flutuando sobre um tempo gasoso

Caminho sobre um abismo de ar sólido

Enredado na recordação do teu rosto

Visto a camisa apertada dos aflitos

Mas faltam-me os acontecimentos distantes

Sou inconcreto...sou um olhar...o teu olhar?

Não posso ser feito de serenidade

Porque carrego o tempo

Como um companheiro interdito...

Nada nasce da verdade

Assim como nada morre com a mentira

E o tempo...foi meu amigo

Contou-me o enredo de todas as farsas.

Disse-me que nada me faltaria

Na hora em que eu acreditasse nele

Disse-me que me dissolveria...literalmente

Como uma verdade escorregadia

Disse-me que as recordações

Que trago arrastadas na garganta

Seriam engolidas mal conhecesse as coisas inúteis

Nada pode ser feito de coisas inúteis

Assim como nada pode ser desfeito

Das coisas amadas...

 

Nasci de uma pequena oportunidade no tempo

Um rasgão umbilical

Uma prece feita de palavras esburacadas.

Que acontece a quem escorre pelos dias...

Pesadelo

Senti abalos saídos de um vómito de horror

Enroscando-se em instantes convulsivos

E tingidos de vermelho

Farrapos pendiam de candeeiros surpreendentes

Que com nojo atirava para a sarjeta

 

Metade dos meus lábios estavam frios

Metade do meu peito atónico dormia profundamente

Metade de mim era uma distração

Uma incoerência convulsiva

Uma não forma suspensa

Num arrepio de luzes ferrosas

Flutuava sobre brilhos vomitados pelos meus olhos

Estremecia sinistramente

Era um poço inflamado

Uma abóbada de vapor

Uma imagem diabólica

Sufocando cada instante na água gelada.

 

Sei que milhares de lugares me esperam

Com raiva expiro trovões sem nome

Sobre noites titubeantes

E adormeço num palácio feito de ferros retorcidos

Depois...estendo as minhas mãos

Quero agarrar os crimes mais pesados

Atá-los em redor do meu corpo

Buscar as suas causas

Porque sou o expiador louco

Que raptou as sombras

Que as arrastou até ao caos

Que as levou pelas pedras soltas

Como se fossem odores de brincar

Ou ferozes olhares distraídos

A seguir descansei

Sentado sobre o nojo

Como se fosse um diabo gelado

Olhando as suas entranhas

Extraindo-se do próprio coração

Comendo a sua alma

Enquanto os meus olhos rolavam nas órbitas

Vestidos de uma incurável paz celestial...

 

Volúpia

Quando os dias mostram o seu sorriso

Aos nossos pés despidos

Quando a nossa imaginação voa...irreal e frágil

Projetando gestos de asas cansadas

Não nos bastam as lembranças

Ilustradas por memórias pálidas

Nem sombras poisadas sobre outrora

Porque nunca as reunimos num jardim

Nem as representámos com a graciosa voz

Dos hinos mais puros

Nem as sonhámos

Junto ao perfume marítimo das anémonas.

 

Cortemos as memórias em tiras finas

Comamo-las sem desesperos nem choros

Acendamos o fogo na lareira e...

Contemos-lhes os nossos dias

Embalemos o lume em músicas de enxugar lágrimas

E sorriremos para as lembranças despidas

Que andam em volta de nós

Como sombras inocentes

Ou como amores sem sombras

Seremos pois...conversas requintadas

Candeias de luz ondulante

Frágeis corpos que bebem

Com deliciosa avidez

As horas cobertas de poesia

Não teremos então... morte nem vida

Seremos águias sobrenaturais

Planando sobre a solenidade encantada

De um puro momento de prazer

Que agarramos nas folhas dos dias

Com um riso perfumado por frescas roseiras

Que nos transportará ao último sorvo da vida

Que beberemos

Numa profunda hora de avidez insensata

Mas sentida …

E que consumiremos

Até onde a volúpia nos tocar

Nos olhos fechados...

 

Ave estranha

Mas...és tu...conheço-te

Sei quem és...

Ave silenciada em sílabas

Que os dias arrefeceram

Novelo de paixões e magias tristes

Tens olhos geométricos a anunciar mistérios

E carregas pétalas de rosas

Cujo aroma só tu percebes

Trazes contigo a distância

E em tardes brancas e silenciosas de inverno

E reclamas rostos aos dias íngremes

Como se fossem pinturas de guerra

Trazes sagradas sabedorias

No teu corpo inquieto

E guardas o princípio do mundo no teu útero

Feito de lendas

E dias semicerrados em espantos

Que os poetas tentam interpretar

Vens como se flutuasses num quadro esquivo

Que tem que ser perseguido

Pelas veredas íngremes da paixão

E pelas alturas sagradas da criação

Vens como se fosses a semente do Eterno

E residisse em ti toda a luz do profundo Universo

Essa Luz que vive escondida

Numa centelha de sonhos feridos

Porque longe da memória do tempo

Resides cativa no rosto imaculado do amor

És o mural do mistério a vencer o efémero

Um enigma que o espanto não nega

Mas...és a pergunta

Que todo o homem carrega

És a fonte

Onde vamos beber o medo das almas sem tecto

Mas também és o berço

Onde vamos buscar todo o afecto....

As casas vazias

Afago o desconsolo

Como um pintor que não dá tréguas aos deuses

Misturo cores que invento

E com palavras feitas de tintas que cantam

Abraço estrelas e beijo luas

Que dançam nos rios a anunciar o verão

Nesse verão onde todos os fascínios

Me falam de longas noites

Nesse verão onde dou tréguas às manchas cinzentas

Que brotando do interior da minha alma

Se desmancham em prazeres

Nesse verão onde invento tardes maravilhosas

E campos banhados

Por bênçãos de searas em festa

Faço das cores douradas do trigo

Tronos em que me sento como um eremita

Que assiste a uma peça num teatro

Cuja abóbada tem a cor azul celeste das crianças

E corro pela minha imaginação

Como uma paixão irretratável

Porque possui todas as tonalidades

Porque não renuncia

Aos tons quentes dos dias luminosos

Porque se a luz é real

A escuridão é inventada pela realidade

E porque a luz canta

E porque a cinza mascara

E porque para compor o desconsolo

Basta o choro das casas vazias

Onde o crepúsculo

Afecta a geometria mágica dos tons outonais

E a música silencia a ausência

E aquece os despovoados corações

Como se fossem metáforas

De versos feitos de aves e sonhos

Que nos transportam

Para os braços sagrados da ternura...

 

 

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