Horizonte
Que fizemos ao nosso olhar?
Que tempo se acumulou em camadas invisíveis?
Que fizemos aos nossos dias?
Que dias rejeitámos como uma erosão opaca de insensatos?
Onde estão as emoções...as memórias
E a existência imperfeita dos sentidos?
Onde está a forma nua da esperança cega?
Onde escondemos a vida que é maior que nós?
Belisca-me...apanha as minhas migalhas
Contempla a nossa existência
Como se fosse uma coisa inútil
Ou como uma pele de cobra
Que é preciso mudar
Porque é preciso crescer...
Cegos...somos cegos
Quando queremos dizer palavras maiores que nós
Porque antes das palavras
Estão as incertezas e as imperfeições
E porque as palavras nunca estão acabadas
São por natureza... incompletas
E todos os dedos são precisos
E todos os trabalhos são instantes
E todos os prantos são feitos de lágrimas injustificadas
Espreitamos com o olhar escondido nas sombras
Como se fôssemos inúteis
Ou como se fôssemos ínfimos instintos
Concebidos em mágoas puras
Fecho os olhos e...
Eis que aí está o teu rosto
Concluído mas...inacabado...
Porque na minha contemplação cega
Perdi o horizonte que agora procuro
Mas que os meus olhos recusam ver...