Naquele abrupto e profundo olhar
Residia uma solidão cansada
Os seus olhos eram uma distância
Como se fossem uma chama apagada...cruel
Ou um isolamento amontoado
Sobre uma ruína fechada... interdita
Delimitada por uma silenciosa dor
Como se fosse uma coisa grande
Ou algo incompreensível
Como uma vontade desprotegida
Desse lago coberto de nenúfares
Saíam choros que entravam pela manhã adentro
Como se fossem clamar ao mundo
Um isolamento...ou uma ascese
Ou como se fossem rasgar esse mundo distante
Com um longo e profundo suspiro cheio de dignidade
Ou como se tivesse que obedecer
Aos degraus espalhados pelos dias
Subi-los palmo a palmo...descalço
Como uma indigna voz calada
Insípidos mundos...clarividentes deveres
Crianças desarticuladas...
Que estranhas coisas somos
Que nos enredamos em deveres desmesurados
Grandes demais para as horas
Que são maiores que nós
Grandes demais para os ventos
Que sopram das profundezas verdes da terra
Grandes demais para o sangue do tempo
Que nos prende como um lastro..
Ou como um rumor de vela que nos acolhe
Numa condição de náufragos
Libertos de mares tempestuosos
E que depois de salvos...e secos
Nos abraçamos aos murmúrios
Que latejam nos largos espaços
Onde desemboca o centro da noite cheia de estrelas
Que se espraiam em nós...como uma altura
Ou como um enorme cruzamento de afectos...