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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Vidas arruinadas

Pelas ruas os candeeiros

Principiavam a acender as fachadas das casas

Os homens tornavam-se raros

Debaixo das copas das árvores

E as pálidas estrelas acendiam

As suas cores num jogo solitário de luzes

E o sol esvaziou-se numa excessiva luz vermelha

Insensível a quem corria para casa

Eu principiava a dividir-me em pedaços

como uma carne branca cheia de raízes

Um gato olhou para mim como se fosse meu irmão

E em volta...

A paisagem desfez-se numa voz melodiosa...

Que me chamava para entrar na água pura

Que escorria das luzes

E que debaixo desse raro céu inteiro

Tremeluziam como um sangue fatigado

Obscenamente fatigado pelo reflexo dos homens

Que cruzavam o espaço entre as luzes

Com a naturalidade das vidas arruinadas...

A falácia descarada do governo

Se não houver acordo com o P.S. o governo ameaça baixar o IRC das empresas de 1% para 2%. Cada ponto percentual que baixe no IRC (números redondos) custa ao estado mil milhões de euros, ou seja, se o governo avançar com os 2% são dois mil milhões a menos na receita.

Por outro lado o governo discorda do P.S. e do Chega, quanto ao aumento extraordinário das pensões mais baixas. Este aumento extraordinário custa ao estado 265 milhões de euros, valor que o governo afirma não saber se tem disponibilidade orçamental em 2025.

Ora isto é uma falácia descarada. O governo não diz que não sabe se pode aumentar a despesa em 265 milhões, mas sabe que pode perder receita em mil milhões, que é o mesmo de aumentar a despesa.

Na verdade o que o governo pretende é dar o tal bónus, como se fosse muito amigo dos pensionistas, perto da eleições autárquicas, a fim de capitalizar votos.

É tempo de alguém dizer que o rei vai nu, e que o governo se importa muito mais com as empresas que ganham milhões e pouco se importa com os pensionistas que recebem tostões.

Para que não se diga que sou um fervoroso adversário do governo, digo desde já que acho que o mesmo se tem saído muito bem nos primeiros meses de governação, tirando os casos da Admistracção Interna e da Saúde, mas acho vergonhosa esta situação de ser possível dar ainda mais lucros a quem mais ganha e não aumentar as pensões mais baixas.

É que o bónus( ainda que seja bem vindo) não é igual a ter um aumento nas pensões.

Comoção

Vivemos com tantas incertezas

Na certeza incerta dos dias

E os gestos inúteis

Correm como insectos excessivos

Sobre a pureza rara das perguntas

Que a noite sem brilho

Faz ainda mais cruas

Desfazemos os olhos...desviamos os olhos

Esquecemos as caras...

Comemos os lábios...desdentamos os choros

E pouco a pouco

Somos um novelo de rugas disformes

Num rosto que espreita os dias...

Abraçamos uma máscara de fantasma

E cobrimo-nos de incómodos

Para unicamente sermos

Uma vertigem nas ruas cinzentas...

 

Temos realidade?

Pergunto...temos realidade?

Em soluços de luz

Surgem dias nas manhãs

Cada objecto ganha olhos

Observa-nos extasiado

A nós...seres sem qualquer préstimo

Os objectos servem-se de nós

Damos comida aos pratos...vinho aos copos

Somos os escravos dos objectos

Os vigilantes de um ninho de minutos

Somos umas linhas

Que se escondem nas curvas das veredas

Rodeados de ciprestes

Cheiramos a insectos

A bocas desdentadas...a olhos calvos

Esfregamos as mãos para distrair os dedos

Que querem tocar em seres celestiais

E pouco a pouco a nossa intimidade

Deprimida pela vigília do tédio

Transforma-se num desenho sem brilho

Transforma-se num dia sem portas

Que nos irrita os olhos cansados...

 

Queremos terra...

O corpo pede terra...colinas...céus

Palavras atiradas à cara

Depois queremos tréguas...ervas...gestos luminosos

Melodias que escorram pelas paredes

Cantos de aves...queremos sempre o mesmo

Queremos a escada

Por onde as lágrimas por mais grossas que sejam

Escorram em direcção ao sol

Que depois as seque

E que nos afague com o seu excessivo brilho

Que nos estremeça os olhos

Quando o nosso coração principia a aquecer

Tão naturalmente...

Como uma voz que nos chega soprada pelo vento

E nos diz que é inútil

Que é sobre-humano

Tentar comover o céu

Com as nossas lágrimas...

Sofreguidão

Invade-me a nostalgia

De um tempo que não sei

De corpos que fui

De corpos que despi

Vergando os dias sem nome

Invade-me a nostalgia

De um tempo cheio de enigmas

Cruzados com dias

Em que é preciso outro olhar

Outro som...outra cor...

Este tempo cinza... de hoje

Pendurado num sol esquiv

É um lar sem tecto

Onde celebro um tempo volátil

Um tempo de exilado

Não sou mais que um sacerdote

Que se demora em busca da alma

De um olhar...de um rosto

De um horizonte...de um presságio

Não sou mais que um peregrino

Esquivo...exilado em sonhos

Celebrando pinturas...

Sobressaltos...dias obscuros

 

Perfilo-me como uma moldura num barco

Vogando em águas soberanas

Águas que me levam para canais sem porto

Sem anjos e sem manhãs

O meu casulo está enraizado

Numa fronteira que só as aves distinguem...

Tu que és uma ave...distingues?

Distingues os pássaros irreais

Do júbilo da aurora?

 

Não há sono sem mistério

Não há dias sem inconfidências

Mas há sobressaltos e pressentimentos

Multiplicando lágrimas

Desfazendo solidões nocturnas

Criando vozes eternas

Ateando centelhas secretas

Sôfregas de desaguar no deserto...

 

Comigo morrerão as telas

Que segredam cores esgotadas

Que alimentaram o sol ardente

Mas é preciso ver o crepúsculo

É preciso caminhar

Nessa estreita faixa de onde escorre o alívio

E para isso é preciso acender velas

Iluminar os quartos desertos...

Mas hoje...

Com o cinzento pendurado na minha janela

Vigio os afagos que a chuva me traz

Os beijos que me promete

Até que as mariposas voltem a cintilar...

 

A solidão dos mais velhos

Insisto em escrever sobre a solidão dos mais velhos, porque acho que essa solidão e o isolamento, não deveria ser apenas um problema deles, mas sim, um problema da sociedade. Seria fácil resolver esse problema, se fosse ensinado aos mais novos que um dia também eles podem estar perante essa mesma solidão. Há imensas coisas que facilmente poderiam ser feitas. A começar por uma verdadeira política social. E não se pense que seriam necessário despender grande verbas, uma parte poderia até ser suprida, recorrendo ao voluntariado e a desempregados. Uma coisa simples para melhorar a vida dos velhos, seria a de que a comida fornecida nos Centros de Dia deveria ser obrigatoriamente supervisionada por um nutricionista. Já no tocante à solidão propriamente dita, porque não contratar desempregados para levarem os velhos a sair de casa, a fazer-lhes compras, a levá-los a consultas médicas, etc. Quando digo desempregados falo também em voluntários. Enfim criar uma rede nacional de apoio aos velhos, nem sequer seria caro, difícil é mover iniciativas e mentalidades.

A separação

Torna-se pequeno o ar quando os corpos se afastam

Tornam-se apertados os largos espaços

Quando a distância

Não tem um lugar por onde abrir caminho

Tudo é pequeno...

Os olhos são pequenos

Os lugares são pequenos

Os olhares são profundamente pequenos

Diminuídos...lentos

Os corações cultivam orações distantes

Dissolvidas na agonia da espera

Porque na lenta caminhada para o encontro

Todos os nossos sentimentos

Se dirigem para o mesmo lugar

Todos seguem para aquele pequenino espaço

Em forma de coração

Para aquela pequenina existência

Magoada pela intempérie da separação

E por isso...lançamos gritos distanciados

Que a tristeza enfeitou com aragens solitárias

Alastra-mo-nos em caminhadas pelas trevas sem idade

Estamos incompletos...sós

O ar é abafado...

A respiração poisou sobre uma superfície áspera

O corpo inclina-se...descai

Os braços agarram-se ao espaço vazio

Que agora abraçamos incorpóreos e silenciosos

A lentidão tomou conta de nós

Os fragmentos dos momentos felizes

Tomaram conta de nós

O céu que é de todos...não nos quer

Tudo se arrasta...o medo alastra

E o calor do sol sobe-nos à boca

A idade desaparece

Torna-mo-nos intemporais

Mas..naquele preciso momento

Em que o hálito da terra fresca...reencontrada

Volta a enfeitar os nossos olhos

Os nossos sentimentos...os nossos corpos

E esse tempo distanciado foi apenas

Um pequeno passo

Um pequeno fragmento de uma viagem pela distância

Que já esquecemos

Porque tudo voltou ao seu lugar

E porque a aragem nos trouxe a paz

O rosto lembrado...e a certeza

De que não há separação

Que escreva no tempo

Que é para sempre...

 

As flores encantadas

Vagueio rodeando a periferia dos sentidos

Projeto uma sombra inútil

Nego-me a dizer que a verdade é uma conquista

Ou algo que uma ave papagueia

Não há fórmulas para vestir um corpo nu

Nem prazeres que o coração não sinta

Cada silêncio tem a sua pureza

A sua verdade...o seu ângulo

Cada paixão tem sempre uma porta

Um absoluto...uma conquista

Cada realidade é uma enorme incerteza

Uma negação...uma tenaz

Uma tenaz que nos leva a mover o corpo

Em direcção ao sentir...

 

Privados...

Somos corpos privados de nós

Mas de coração aberto

E crivado de dores

Intimamente cheiramos a sal

Salgados...somos salgados e irreais

Sensíveis...também

Mas de uma sensibilidade

Que não pára de perguntar

Se a pureza é crua

Se faz mal aos olhos

Se é uma nesga nas nossas rugas...

 

Os cheiros entram-nos pelas vidraças

Nas noites brancas...

A vigília torna os suspiros raros

Como se nos despíssemos da solidão

O sol levanta-nos de acordo com a sua lei.

E nós encosta-mo-nos às paredes

Para equilibrar o corpo

Para não fazer sombra

E como marginais

Pisamos as flores encantadas

Que sempre nos esperaram nos jardins...

 

Eu não me queixo do meu país

Eu não me queixo do país em que nasci

Eu não quero saber

Que ele não queira saber de mim

Eu não me queixo do pais em que nasci

Hei-de bebê-lo até ao fim

Hei-de desiludi-lo como um farsante

Que lê magníficos versos

Hei-de abusar da alegria e enrolar-me em poesia

Não quero saber que este país não me conheça

Porque haveria de querer?

Eu próprio não me conheço

Quero lá saber que este país

Me deixe flutuar de cabeça ao vento

Ouvindo os sábios que nada sabem

Falando como se soubessem tudo

Quero lá saber que entre eu e o meu país

Haja um universo ininteligível

Se também eu não procuro conhecer

A inteligibilidade desse país...que é o meu

Quero lá saber que não haja esperança nem doçura

Nos agrestes dias que se derramam sobre os abusos

E que por detrás das personagens

Apenas existam queixas e faltas

Eu não me queixo do país em que nasci

Não me queixo do vinho

Dos que não trabalham... das mulheres

E muito menos dos que passeiam a noite pelos corpos

Não me queixo dos medíocres

Nem dos que querem ser reconhecidos

Não me queixo dos invejosos nem das obras-primas

Não me queixo da Bíblia

Nem das desilusões... nem da piedade

Enrolo a minha existência

Numa solene condição encantada.

Em quadros pintados

Nas noites em que flutuo sem memória

E não espero que o meu país me compreenda

Nem espero compreender

Qual o tempo que levo a subir as minhas escadas

Sou um feliz desencantado

Um inocente membro da classe alheada

Porque deveria levar o meu piano para a rua?

Porque deveria derramar doçuras

Sobre a distância que me separa do meu país?

Este país tem horizontes infinitos

Tem mar e é banhado pela tristeza.

É um quarto em que as miragens

Se confundem com a volúpia

Porque me queixaria eu do meu país desencantado?

Se eu estou encantado por ele...

Como se ele fosse

Uma miragem derramada

Sobre personagens agrestes

Eu não amaldiçoo o meu país

Não lhe atiro dardos

Apesar de já ter pisado merda de cão nos passeios

E embirrar com pessoas sem asseio

Eu não me queixo das guinadas

Que o meu país me dá no coração

Não invejo as rotundas...nem as rectas

Nem a verdade...nem as vagas sensações

Nem os famosos...nem os não famosos

Sou assim como que uma distância

Um lugar afastado

Estou errado?

Gosto dos gemidos do mar

Maravilham-me as gaivotas

Encantam-me os simples

E as faces tristes...e as desarmonias

Não...eu não me queixo do meu país

Afinal ele está cheio de uma verdade

Sem nada de extraordinário

É um país...o meu país...este país...

É o único que poderia amar...

 

Onde não há poesia

Nascemos calados

Ingénuos...originais...sem pecados

Forçamos as horas a susterem-nos no tempo

Crescemos...

Depois a nossa estátua alegra-se

O tempo da fuligem cinzenta passa

E cismamos...incandescentes

Como seixos ao sol plantados na areia dos verso

Pensamos...

Quem se terá lembrado de chamar ao amor...pecado?

Pensamos no peso do pecado

Qual peso?

O pecado não tem peso

Porque não existe pecado

É uma invenção...um desregramento

Somos dois...somos muitos...alegra-te

A balança não se desequilibrará

A soma fabulosa da perfeição

Resultou em homem e mulher

E... por isso... inúteis são os que dizem

Que não podemos renascer todos os dias

Inúteis são os arcanjos terrestres

Mestres do cinismo

Que claudicam no tédio balofo

Onde não há poesia...

 

Inspiração...

Esculpe em mim todas as palavras

Diz-me todos os teus segredos

Torna-me um verso imperfeito

Deixa-me contar pelos dedos

Os sérios...os coitados...

Deixa-me chamar aos pecados

Elevações robustas da alma...

Deixa-me chamar aos pecados

Razão...fogo...incandescência.

Deixa-me chamar aos que condenam os pecados

Espectros...dores...insignificâncias

Porque poucos sabem

Que na hora em que nascemos

Já somos cinzas petrificadas

Sepulcros perfeitos...terra ardida....fogo solar

E perante isso...

Deixemos o nosso esqueleto pecar

Pecar...pecar...