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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Poema de Natal - Feliz Natal para todos

Meia-noite! Meia-noite!

Nada vai mudar,

A vida corre sempre,

O mundo não vai parar.

 

A dor criou o mundo

A vida é primavera

Os pobres mais humildes

Dormem sobre a terra

 

A vala comum da vida

Espreita a alma em sangue

Mistérios mostram-se no pranto

Exaustos corpos em lume brando

 

O Natal em fogo lento

A todos vai mostrando

Que a guerra é um só lamento

Que sai da boca de cada santo

 

Meia-noite! Meia-noite!

E tudo será igual

Apertam-se os abraços

É Noite de Natal

Uma surpresa chamada amizade

natal 2024.jpg

Um gesto raro

Um peito cheio

Um tempo morno

A respiração da distância

Sorrindo na noite

E a alma da gente

A derramar-se na simplicidade

Desse lastro de tempo

Feito amizade.

p.s. alguém me presenteou com esta enorme surpresa, e não podia deixar de agradecer em forma de poesia. Porque não estava à espera, porque é um gesto profundo, porque faz acreditar que certas pessoas  guardam em si a partilha e a humanidade. Para essa pessoa (e por todas as que por aqui passarem) desejo o melhor que houver neste Natal e também para o ano que se irá iniciar. Obrigada.

Conto de Natal# 5 - O violinista

Numa tarde fria de dezembro, uma velhota estava sentada num banco de jardim. Na verdade não era um jardim, era uma praça quadrada. Nas ruas em volta as pessoas seguiam a sua vida. Umas comprando presentes, outras seguindo o seu caminho. Perto dela, estava um violinista tocando o Silent Night, Holy Night. Ela escutava aquela bela música, e até parecia que os acordes lhe entravam pelo coração adentro. Mas a velhota estava triste. O seu único filho tinha saído de casa há mais de dez anos. E tinha saído zangado, tão zangado, que nunca mais deu notícias. Entretanto algumas pessoas paravam a escutar o violinista, e depositavam moedas na caixa aberta do instrumento, que o rapaz colocara no chão. Mas eis que se aproxima um homem a depositar a sua contribuição para o músico. A velha senhora abriu os olhos com espanto. Levantou-se e foi em direcção a ele.

 - Luís – disse ela - pois pensava ter visto o filho naquele homem, e que um milagre de Natal tinha acontecido naquela praça. Surpreendido, o homem olhou para ela e disse que não era esse o seu nome. E mais um Natal se passou sem que o filho tivesse regressado.

Conto de Natal#4 - O banco do hospital

Na noite de Natal um velho está sentado no banco de um hospital. Na rua, o silêncio só é cortado pelas rajadas de um vento frio. Há luar e pelas janelas foscas entra essa luz leitosa. Uma luz triste como o tempo em que a doença nos visita. Vindos de uma enfermaria chegam ao velho alguns gemidos de dor. Só, aproveita o tempo para recordar quando em criança brincava correndo na rua, ou trepava às árvores. Ao mesmo tempo as camas de ferro da enfermaria fazem-lhe lembrar as campas no cemitério. O vento continua a varrer a rua. Folhas mortas voam como presságios. E dentro de si, um frio sem nome conta-lhe que já não falta muito tempo para se encontrar com a mulher que há muito partiu. Suspira. Com se fosse atravessado por um sol frio. As luzes do corredor apagam-se. A manhã chega. É dia de Natal. Ele está gelado.

Conto de Natal#3 - Os filhos

Estava uma noite de névoa e frio. As árvores descansam dos afazeres do outono. É inverno. Perto da casa de pedra um ribeiro corre devagar. Da chaminé solta-se uma réstia de fumo. Lá dentro, uma luz trémula, vaga e amarelada alumia o escuro. Um casal de velhos está sentado junto à lareira. Estão calados. Cada um nas suas cogitações. Houve um tempo em que risos de crianças alegravam a velha casa. Eram pobres mas felizes. As paredes negras de fumo também não ajudam a aliviar as memórias. Ele vai bebendo vinho, ela aconchega o xaile nas costas.

- Não deixes o fogo apagar-se – diz ela

- Tenho que ir buscar mais lenha – responde o velho

E ali estão, longe do mais longe que existe. Os filhos são agora apenas memórias que eles visitam. Todos partiram para o estrangeiro. E o fogo que os aquece é a única coisa parecida com o amor dos filhos, que apesar de serem uma longínqua memória solitária, estão sempre presentes . Um quente e um frio, metáfora de vida.

Conto de Natal#2 - A generosidade

Ana pressentia que naquele Natal alguma coisa de raro lhe ia acontecer. Não sabia o que seria, uma vez que tudo estava a correr como nos anos anteriores. As prendas estavam compradas. A ceia de Natal estava perfeita. As luzes piscavam. O presépio estava lindo. Até o Menino Jesus parecia que sorria de contente. Mas ela continuava sem saber o que sentia. Aquele sentimento estranho não a largava. Foi ouvir música para descontrair. Por momentos fechou os olhos e da profundidade da sua alma, chegou a mensagem:” espalha generosidade”, não queria acreditar, era isso, era aquela a mensagem que esperava, e que nunca se tinha lembrado, nas outras noites de Natal. Então, saiu para a rua, levou parte da ceia de Natal e compartilhou com os desvalidos que encontrou. A partir daí, o seu Natal nunca foi mais o mesmo. Tinha encontrado o seu tesouro; a generosidade.

 

Conto de Natal#1 - A indiferença

Faltava pouco para o Natal, e as pessoas corriam atarefadas a comprar os presentes de última hora. Numa esquina, esquecida por todos os que passavam, uma velha mulher esforçava-se por cantar uma antiga canção adequada à quadra. Junto a ela estava o seu cão. Fiel companheiro de noites de invernia. As pessoas passavam, de vez em quando alguma deixava cair uma moeda no prato colocado no chão. A tarde avançava, o número de pessoas diminuíam na rua. Cada uma voltava para o quente dos seus lares. Iriam consoar. Abrir os presentes. Rir de felicidade. Lá fora, a velha mulher percorria as ruas agora solitárias. Voltava ao seu casebre de telha vã. O cão seguia com ela de orelhas caídas. O animal parecia perceber a desolação da dona. E quando tudo parecia que se ia passar como nos outros natais, um estranho apareceu naquela rua deserta, levava consigo vários embrulhos, alguns continham acepipes para a ceia de Natal. A velha despertou-lhe a atenção. O cão abanou a cauda com simpatia, mas o homem seguiu o seu destino. Segurou ainda com mais força a embalagem onde levava a ceia. Sim! Aquele homem sabia que a partilha não tem de ser feita só com os conhecidos, e que de facto é muito mais gratificante fazê-lo com quem não sabemos quem é, só que ele estava atrasado para a consoada e afinal não lhe interessava saber quem era a velha...há tanta gente sem nada,( e ele não era propriamente um benfeitor) que mais uma velha vegetando na pobreza, não faz grande diferença. Isto nem ele sequer chegou a pensar, com a pressa que levava em se afastar da velhota e chegar a casa.

 

As pétalas caídas não deixam saudades

Quem não quer aliviar o ser carrego

De vozes que se fazem raras?

Quem não quer ver esvaziar-se

A luz sobre uma lenta rua deserta?

Sabemos que os reflexos se agitam nas folhas das árvores

E que uma lâmpada apagada é um vazio de luz

E também sabemos

Que as pétalas caídas não deixam saudades

 

Imóveis ruídos nos olham

Debaixo de um sol ardente...imensurado

E nas escadas profundas dormem bocados de dia

 

Aliviados da nossa carga

Olhamos os cães que atravessam os espelhos partidos

Insensíveis ao olhar de quem nada vê

Somos bocados de mesas

De camas...de facas e de garfos

Riscamos o porto de abrigo

Com unhas inundadas de horizontes luzidios

E ardem-nos os olhos

Presos em cadências de prata

Somos um enorme barulho universal

Impulsos surdos...corações desordenados

Burros de carga que miam

Como gatos que lançam queixumes floridos

Lâmpadas alcoólicas

Que se arrastam como cascos de navios

Mas...dentro do nosso sono

Nasce lentamente uma rara flor... secreta

Como se fosse um silêncio queimado pelo sol...

Breves pancadas

Lembrei-me que havia uma linha fechada

Que respirava chão

E que podia ver ...de dentro do mar

O sol a abafar as ondas

Ofegavam as âncoras

Embriagadas pelo murmúrio cortante da atmosfera

Tudo era esmagador....imóvel

E de dentro dos meus olhos

Brotava uma poeira faiscante

Um preguiçoso acordar

Uma nascente inflamada

Como se as coisas perdidas

Fossem apenas momentos

Breves pancadas.

Tonalidades de outrora

É dentro da noite

Que se expia a preciosa dor encantada pelo poente

É dentro da noite

Que amaldiçoamos os dardos que nos ferem

Como se assim fôssemos capazes de dosear

As picadas que gemem no coração

Ou como se vomitássemos esse veneno

Que faz murchar as flores

 

Não há sabedoria

Que vença os picos intransponíveis

Nem a luz que cega

Nem a intuição de que somos apenas natureza

Sem mais encantos...que a natureza

Sem mais delírios vagos

Que uma joia no pescoço de uma mulher...

 

Gememos horizontes sobre mares

Que se afundam em doces marés

E pensamos que da luz

Virá aquele encantamento que levará o vazio

E que banhará para sempre

O interminável universo de doces amores

Pensamos que as flores são melancolias

Fetiches de mulheres...deliciosas ternuras

Abrimos o coração ao mistério

Que depois se afunda

Num êxtase de encantos sobrenaturais

Tememos o inexprimível gemido

Que o infinito irradia como uma afronta

Ou como uma preciosidade sem limite de valor

Porque nunca saberemos quanto vale a eternidade

Nem o mais intenso sentimento...

 

Somos deliciosamente infantis

Cruelmente duplos...melancolicamente insanos

Porque sabemos que o presente

É uma ferida dolorosa

Uma bolha prestes a rebentar

E que dos nossos gritos

Serão apenas guinadas nos dias...e nas noites

Em que aflitos...de olhar perdido

Procuramos a imagem que restolha noutra noite

Noutro navio encalhado...noutro desespero sem fim

Como se fosse uma paisagem

Cheia de folhas empurradas por recordações

De um tempo mais alto

De um tempo mais próprio

De um mundo menos vão...

Onde os reflexos do sol

Nos encandeavam os cabelos

Com tonalidades de outrora...

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