Animais de estimação
Já poucos buscam
Os caminhos lentos das paisagens
Já poucos procuram
A companhia das pedras
Já poucos se incendeiam por amor
É o vácuo...a noite suja
A vergonha reprimida
A membrana macabra
A dor anedótica
Que enfeita uma ópera negra
Já poucos escutam
As flores que dizem poemas à lua
E poucos se banham
No lago onde cintilam estrelas
Surdos...sois surdos e cegos
É o que vos digo
Surdos e bandidos de vós mesmos
Sem mercês nem piedade nas mãos
Presos a galhos e a fios negros
Marionetas com as goelas sujas
E alma com escaras...
Quero correr-vos a pontapé
Rir-me das vossas nódoas negras
Fazer do vosso crânio a minha taça
Beber por ele e brindar à razão...
Quero ser a electricidade
Que vos dá choques na carótida
Quero juntar todas as vossas abjecções
Uni-las como num colar de pérolas
E pô-las ao vosso pescoço
Como uma trela abjecta
Ai gentes castradas
Vermelhas de infidelidades reprimidas
Zarolhas e esventradas
Pelos punhais das angústias
Que certeiras vos apertam o coração
Libertai-vos disso...já
Tirai esse fato escuro que vos aperta
Dançai nus na rua...olhai os animais
Onde pensam vocês
Que eles escondem as vergonhas?
Onde pensam vocês que eles digerem o amor?
Não! Eles não habitam
As grutas tenebrosas dos homens
Eles são como aqueles pássaros livres
Porque os homens que não são livres
Passeiam-se pelas ruas com uma trela
Segurados pelo seu animal de estimação