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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Para além do tempo

Peço hoje às ruas

Para que não guardem os meus passos

Peço hoje aos barcos

Para que levem o meu grito

Peço hoje às janelas

Para que se abram ao meu olhar

E o derramem sobre todo o infinito

Peço hoje aos ouvidos

Que respirem sons de sinos

E que os meus olhos

Se espalhem pelo que não vêem

Peço uma parcela de acalmia ao furor

E à nostalgia

Um som profundo de calor

 

Dos olhos doces

Quero beber as lágrimas

Quero saboreá-las

Com a língua da ternura

Quero juntá-las num cantinho acolhedor

Dos mistérios quero ser o seu amor

Que para além do tempo sempre dura

Dias vagos

Quando os teus lábios

Já não me contarem histórias

E o teu coração

Já não perseguir os meus passos

Quando o teu calor

Já não derreter o meu sofrimento

E os meus pés

Já não passearem na tua paisagem

Voltar-me-ei para o sol

Que me cura a sede

Tactearei as rugas

Que me falem dos universos

Que se abatem sobre mim

E sentirei um espicaçar na alma

Ainda verde da tua presença

Que apenas pressentirei

No choro desarmónico

Da minha imensa da solidão.

A plateia está deserta

Bebemos pelo árido cálice

O espectáculo trágico da vida

Secos e poeirentos vales nos procuram

Somos personagens-poeira

Plantada numa tragédia prodigiosa

Procuramos o espelho

Que nos mostre a perfeição da alma

Mas ela não tem forma nem perfeição

Somos eternamente construção-destruição

Somos espectros de animais

Larvas ainda em crisálida

Temendo o cenário

Que o nevoeiro esconde

Temendo as figuras

Que o sol criará na hora da ceia nocturna

Procuramos incessantemente os Lázaros

Que ressuscitarão dos sepulcros luarentos

Perguntamos em que imensos cemitérios

Nos acolherão os céus

Enchemos folhas de papel com odes apagadas

Tudo isto porque não podemos contemplar

O riso incandescente dos anjos

Tragédias...orgulhos...nada...

A plateia está deserta!

Segredos no mar

As vagas vinham até nós

Em volúpias majestosas

Traziam esplendores azuis e brancos

Como se fossem segredos profundos

Ou como gritos doces

Que a lua enviava para o coração

Lá longe ...pressentia-se o abismo

Como se o mar se transfigurasse

E nos recebesse com magias e leitos

Onde pudéssemos adormecer

Num lugar feito de cânticos

Onde as nossas dores

Fossem como milagres

Erguidos sobre os sonhos

Um lugar...

Onde enlaçávamos gemidos

Que o mar secretamente guardava...

Coluna de sábado - Gemoniae scalae

Os tempos que vivemos fazem lembrar as Gemoniae scalae ( escadas dos gemidos em Roma) só que agora não somos lançados ao Tibre, o Tibre são os nossos gemidos perante a incapacidade de alterar o curso da ganância e do poder. A prepotência governa o mundo. A civilização deixou de existir. E pobres de nós que temos que tolerar um César na América com os seus Centuriões que querem destruir o mundo actual e criar uma nova ordem. Voltou o tempo dos bárbaros. O pau que nos atravessa e corpo não sai pela boca, fica dolorosamente entranhado em nós. Séneca falava “dos homens que receberam do povo o poder e que depois o utilizavam contra o povo”, e esse estranho presságio, ou constatação, é agora tão real como no tempo de Séneca. A acção política baseada no Humanismo deixou de existir, e a arte da política transformou-se num negócio de construção civil e de moto serras que cortam a liberdade.

Enganos

Não...não era confusão

Eram olhos...palavras...sol

Era todo o planeta a ser mergulhado

Naquele lago virado ao sul

Era um universo dentro de uma palavra

Impronunciável...secreta

Era a contemplação de um sonho errado

Mal percebido...

Murmurado no escuro denso da nossa história

Sem história...

 

Não...não era confusão

Era vergonha...fogos fátuos...lua

Era o pôr-do-sol a fazer a nossa cama

Sonolento...boquiaberto

Era a realidade afundada em chamas murmuradas

Através de vidros afundados em duas agonias

 

Eram incertezas...penumbras

Auroras sem tamanho...boreais

Eram sons exóticos

Que apenas nós contemplámos com braços tardios

Não...não era confusão...

Era a noite a enganar-nos!

Maré cheia

A maré enche...

O céu cinza chumbo mergulha o rosto no rio

Confundindo-se num absoluto cinzento

Mesmo à minha frente...

Um corvo marinho

Mergulha incessantemente na procura de alimento

E eu...mergulho com ele

Sentindo o silêncio do rio

Aconchegado no meu peito

Como se fosse um ritual orgânico

Ou uma dança de águas

Trazidas pela distância

Que me separa de ti...

Praia solitária

Página atrás de página

Persigo o livro que se erga da névoa

Aos meus pés

Tenho o busto da espuma sorridente

E a minha boca procura o caminho

Para a orla misteriosa da tua alma

 

A névoa

Carcomida por um exército de pedras

Desce violentamente pela falésia

Ao encontro da espuma branca

Mas se não há marcas de passos

Na praia vazia de gente

Apenas marcas do poiso das gaivotas

Quem poderá escutar os vagidos da espuma?

Quem poderá escutar

O suicídio rolante das ondas?

 

A minha boca abre-se

Num hiato de divindade surpreendida

E eu ergo-me... pleno e frio

Sobre a máscara muda dum grito

Um grito que lança a sua chama

Como se fosse a página de um livro em branco

Onde a esperança é um eco

Gritado pelas pedras arrastadas pelas ondas!

Homens vazios

Homens vazios

Inquietos

Astros solitários

Transparentes como navalhas

Vivendo um inquietante sonho de assassinos

Burgueses fúnebres

Adormecidos no frio das víboras

Que se levantam de manhã

A praguejar

Vagos como janelas

Fúteis como gritos

Ensaiando fugas

Pela porta das traseiras

Rumo ao azul transparente

Das casernas onde passam os dias

Numa aflição de vento

E de criança com medo...

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