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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

O meu retrato

Bebo o mundo...fixo os olhos...e ali estou

Sou a pedra rugosa do silêncio

Onde me sento para falar

Comigo...

 

Deixo-vos aqui o meu retrato

A minha alma submersa

Sei que todos têm consigo

A brisa das manhãs

Mas para que me serve

Para que me interessa?

Se eu te olho e tu te afastas

Que nos resta?

 

Se te encontras no rio que entardece

E uma alegria sobe pela maré

A noite foi uma fotografia

muda

O dia é uma força a esconder-se na alma

Desnuda

Que o sol ternamente aquece...

Em cada recanto de mim

Na embriaguês da minha alma

Geme uma imensa lâmpada

 

Invade-me a lividez áspera do céu

E enquanto navego nesta cinza melancólica

O meu corpo sente as cordas

Que o atam ao húmus da cada enigma

 

Descubro caminhos em cada medo

Que crescem como folhas sem luz

Exaradas nas madrugadas

Que despontam em cada vulcão

 

No sal do grito ressalta o frio da melancolia

A primeira luz da pele

Percorre o arrepio do tédio

Ergo-me ante o fogo das lágrimas

E o caminho fácil do abandono

Que permanece..insubmisso

Em cada recanto de mim

Construir a paz

Que nunca mais cresça o silêncio entre nós

Que as trevas se afastem no canto triste das rolas

São horas de olhar para dentro...e regressar

Aos dias em que as traças se incendeiam

Na luz ofuscante do telheiro

Onde em paz...construímos a noite...

 

Que foi que herdámos da neve que caiu?

Breve traço de sonho branco

Entrelaçado na transumância serena do frio

Incerto corpo...a oscilar...na leveza breve da tarde...

 

Devia dizer alguma coisa...participar

Mas embora estivesse ali

Estava tão longe...que me perdi

Devia escrever alguma coisa

Mas onde encontrar palavras?

Senão em mim...que não as tenho

Por isso calo-me

Como se o meu destino fosse assim

Mais fácil...

Um pouco de sol

Desconheço as horas

Espero nem sei bem o quê

Espero...talvez...

Que o tempo aninhado no meu corpo

Se lembre de acordar

Ou que alguém bata à porta

E me traga um pouco de sol...

 

Há sempre uma esperança em cada dia...(frase vulgar)

Mas o que não há todos os dias

É o gotejar da chuva na janela

Nem o latejar do vento

Que entra pela estreiteza da fresta entreaberta

Tudo o resto se quebra

Nas margens da poesia

E da solidão...

O vazio da tua ausência

Caem do meu rosto meus pétalas cansadas

Como se nascessem

De um coração com dúvidas

Tiritam imperfeitas e geladas

Como se a ausência da mão que as afaga

Fosse algo intransponível

 

As horas lembram-me continuamente

O vazio da tua ausência

Mas... por vezes...subitamente

O teu olhar aparece

Mascarado de fantasma

Mas um fantasma com máscara de gelo

Um desses fantasmas feitos de um gelo fugitivo

Que se derrete ao meu olhar

 

Aspiro demoradamente o ar

Como um lobo delirante

Pode ser...

Pode ser que uma súbita chama

Irrompa como um geiser

E tu ...venhas sentada no cimo

Acenando-me

 

Caem do meu rosto pétalas cansadas

Como se nascessem de um coração cansado

De te imaginar!

Passeio pelo parque

De manhã passeio pelo parque,

Ando pelos relvados ladeados de árvores.

Passeio inconsciente da consciência delas

E elas olham-me

Inconscientes da minha consciência...

 

Em que súbitos aromas terei que despertar?

Com que cardos terei que cobrir o meu corpo?

Com que espinhos terei que punir a alma ?

Que delírios esquecidos terei que percorrer?

Que fumos espessos terei que atravessar?

Para ser apenas eu...

 

Os dias partem claros e ardentes

As lembranças lutam

Contra teu impenetrável aroma

Mas as minhas mãos exalam ainda

O perfume do teu corpo

O espelho

Acordo e o espelho diz: - envelheceste

A noite condensou-se no gelo que bebeste

O corpo permaneceu...sagrado

Por fora...coberto de presságios

Por dentro rasgado

 

Imóvel...intacto

Semente de palavras esquecidas

Constato que a felicidade brilha

No astro que se espreguiça na água do lago

 

Cobre-me a noite...cobre-me a vida

Estranhas asas em mim desfalecem

Como se a eternidade fosse sentida

Dentro de sentimentos que não permanecem

 

De bom grado aceito o espelho

Onde a noite se instala

De mim...nada mais que ossadas

Apenas o frio aquático da inocência

Apenas as asas furiosas da bala

Apenas a semente que me leva aos espaços

E que cresce na minha melancolia

E se encosta à minha eterna dormência

Feita com os meus olhos já gastos...

 

Diz-me o que ficará da nossa fala

O que ficará das nossas conspirações

Entre o outono que vem e a estrela que cai

Que espaço nos resta

Para a libertação da nossa alma?

Horas vazias

As horas vazias...as tardes encantadas

Sagrada fonte esquecida na noite

Penumbra...janela iluminada

O corpo cobre-se de palavras

E a vida escorre pelas linhas desfocadas

 

Semente de astro...pele de seda

A lembrança ecoa na melancolia

Rugas de ferrugem esperam o dia

E a alma...extasiada...

Arde nas chamas inúteis das veredas

 

Lembro-me desse regato

De águas quase rasas

Lembro-me da sede das aves

E da volúpia das pétalas que flutuavam

Lembro-me de mim...a sorrir...

 

Consola-me dizer que acordei agora

Embora me faltasse o tempo para dormir

Consola-me o respirar da tarde

E o crepitar do relógio da sala

Que ali está...pregado na parede...parado

Enquanto conta as horas

Que não param nunca.

E eu...esmagado...

 

A cavalgar o vazio das ruas

Vivo escondido dentro dos pássaros

Hei-de encontrar a ressonância de mim

E mesmo que nos meus pés

Ecoe a poeira dos caminhos

Haverá sempre um lugar

Onde possa lançar a minha âncora esfaimada

Porque há um lugar inconfundível

Onde as velas não temem o vento

E os olhares e os rostos...não fogem...

 

Que aconteceu hoje?

Que pessoa procuro dentro da alma

Que se esvazia na calma da tarde?

Pluma de serenidade a procurar o chão

A cavalgar o vazio das ruas

Como quem respira pelos poros das pedras

E não se encontra cá...

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