Velhos amores
Toco com um dedo apenas
Os sulcos do meu rosto
Toco-os para recordar um tempo recoberto pelas trevas
Um tempo tão impossível como um bosque azul...
Visto num absurdo dia
Fora de qualquer estação do ano
Ou como se houvesse
Um mar destemido na montanha
Sigo essa janela aberta para a meninice
Até atear as lembranças que já são cinza
Até voltar à indiferença dos fortes...e ridículos
Que atiram velhos amores pela janela
Como se fossem maus
Que fazemos quando somos maus?
Que luto vestimos? Que músicas dançamos?
A quem matamos de desespero?
De que cor são as nossas tristezas?
Ah! eu nunca serei um adulador do poente... sem sol
Nunca serei um pó branco a pairar
Nem um candeeiro ao lado da seara seca
Serei sempre uma fragrância que se desprende
De uma rara orquídea azul em fogo
Que arde silenciosamente no adro do teu campanário!