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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Velhos amores

Toco com um dedo apenas

Os sulcos do meu rosto

Toco-os para recordar um tempo recoberto pelas trevas

Um tempo tão impossível como um bosque azul...

Visto num absurdo dia

Fora de qualquer estação do ano

Ou como se houvesse

Um mar destemido na montanha

Sigo essa janela aberta para a meninice

Até atear as lembranças que já são cinza

Até voltar à indiferença dos fortes...e ridículos

Que atiram velhos amores pela janela

Como se fossem maus

 

Que fazemos quando somos maus?

Que luto vestimos? Que músicas dançamos?

A quem matamos de desespero?

De que cor são as nossas tristezas?

Ah! eu nunca serei um adulador do poente... sem sol

Nunca serei um pó branco a pairar

Nem um candeeiro ao lado da seara seca

Serei sempre uma fragrância que se desprende

De uma rara orquídea azul em fogo

Que arde silenciosamente no adro do teu campanário!

 

Sou qualquer um

Sou qualquer um que passa por ti na rua

Sou aquele que conhece as caves da tua solidão

Mas não sou aquele que te aponta o dedo

Nem o que espreita na sombra

Sou apenas um louco perigoso

Um louco que descobriu na dualidade do ser

A demência que nos faz ser inteiros e maravilhosos

 

Sou aquele que descobriu

Por debaixo de perfumes austeros

A beleza dos corpos que correm ansiosos

Implorantes e fátuos...desejados e desarmónicos

Fielmente convertidos às leis sagradas

E erguidos perante a tirania ofuscante da beleza 

Como se não fossem escravos da idade

Como se não tivessem ventre

Como se não implorassem amor

Como se não cantassem embriagados pelo desejo

Árias... que nos olhos esplêndidos traçam os destinos

Onde enterramos juras!

Embriaguez

Passo pela minha sombra e não me vejo

Tropeço nessa sombra que um outro eu projeta

E o sol...qual manta que me queima as costas

Dispara sobre mim todas as pragas.

 

Não sou do tempo ignorado

Sou do tempo que corre nas veias

Mas o tempo que me tortura

A praga que me martiriza

Passeia-se pela noite...nua...tirânica...

 

Na noite...

Em que de todos os lados chovem astros maravilhosos

Em que de todas as ruas chovem destinos que me cruzam

E todos os meus sentidos escutam músicas de encantar

Todos os caminhos me estão reservados

Basta-me disparar a correr sem tropeçar

Basta-me escutar a banda

Que toca louvores à harmonia da alma

 

As horas...partidas em pedaços...erguem-se torturadas

As horas... escravas do tempo...molestadas

Riem-se como amores que acabaram de tomar veneno

O veneno que as vai unir...fielmente

Sob a embriaguez perfumada e ansiosa

De um tempo que não pára de nos assassinar...

O ritual efectivo do vazio

Áridos e esguios dias. Arestas de frio percorrem as ruas. Branca geada de surpresas aflitas. O Homem e as suas faltas. O Homem e tudo o que lhe falta. O agoiro de um céu cerúleo. A tarde. O rigor esquadrinhado da dúvida. Compridos vazios aguardando a sua vez. As conversas e o vento forte. A clareira dos risos. O ritual efectivo do vazio. Tudo é e tudo passa. O frio. A dor. A constante frieza de que já foi. O nada. Daqui se vê a nossa milenária distância das coisas. Daqui se observa tudo o que ainda não é. Longo é o adeus. A noite é o recolhimento. Todos os impossíveis vivem incrustados em nós. Todas as suavidades e todo o peso do choro. O cansaço agarra-se à roupa da pele. O sabor do adeus cola-se ao céu da alma. E nós...calados...ao pé do que não dissemos.

coluna de sábado - há uma sensação de insegurança?

Sente-se no ar uma sensação de insegurança, não é bem insegurança é mais um sentimento de impunidade por parte destes grupos fascistas, que são os mesmos grupos que dizem ser os imigrantes os culpados por este sentimento. Quem se der ao trabalho de ler a história do tempo em que Hitler chegou ao poder, verificará que estes ataques a pessoas nacionais e estrangeiras são tirados a papel químico  do tempo dos nazis, ou não sejam eles defensores do nazismo. Não nos iludamos, se o estado não actuar com força, se as leis (leis que o Chega pretende alterar, mas sem mencionar os neo-nazis) não forem alteradas de forma a punir duramente estes ataques terroristas,( que é o que eles são), teremos certamente problemas no futuro para os controlar. A receita é antiga, primeiro começa-se pelos ciganos e estrangeiros, depois pelas pessoas que têm ideias diferentes e por fim, tenta-se conquistar o poder, porque para conquistar o poder é preciso criar na mente das pessoas, a sensação de que são esses classes mais desfavorecidas os reais problemas do país. A verdade é que até agora o Chega tem conseguido atingir os seus objetivos, é comum escutar  muita gente a concordar com eles sem se preocuparem com a democracia. O maquiavélico desta situação é que a democracia não deveria permitir a existência de partidos ou grupos que visam exclusivamente instalar uma ditadura em Portugal, que não tem outro nome que não seja a ditadura do medo. Medo que não deveria ser atribuído a imigrantes ou ciganos mas a esses grupos fascistas.

Onde o vento passa

Levanto-me…

Dói-me a aceitação do dia

Sou um farol na ponta de um paredão dormente

Há sempre um outro a escorrer de mim

A alastrar como rugas na minha pele seca

Ou como uma mancha perdida

Que rasga o quadrante da minha sombra

Ocasionalmente ocorre-me uma afasia de espanto

Como uma chuva do acaso ... sinto cheiros...cores

Coisas simples que me assolam

Como se fossem restos de tempo…

 

Iluminadas pelo clarear do dia

Sobre a mesa tenho fotos esquecidas

Desbotadas pela lenta luz das vidraças

Quebradiças como olhares

Que preguiçam no leme dos dias

Olho a insensatez dessas fotos

E sinto que tudo ali foi apagado

Como um desejo impiedoso

Gravado na carne extinta da luz

Por fora pessoas

Por dentro irrealidade e espanto

Afogados numa letargia de sonho…

 

Salpicos de dias …desgrenhar de vozes

Marés abertas aos rochedos do frio

Abrigo de gelo onde nada acontece

E onde o vento passa

Roçando-se pela respiração da minha alma

Que se solta num silêncio de véu encoberto

Pelo imprevisível corredor da vida...

 

Imobilidade

Sentei-me na praia como se me sentasse

No espaço que me separa do mundo

Fixei a minha sombra na areia lisa de sol

Deambulei pela linha pesada do horizonte

Encolhi os olhos à claridade salgada da luz

Adormeci na espuma oblíqua das ondas

Senti a alma a embater de encontro à luz

O mar respirava...

Extinguia-se na praia do meu silêncio

Silêncio de rochedo cravado na areia

Dos meus olhos saía a obscuridade baça das algas

Eu era um peixe-voador

A cavalgar a imobilidade do dia

Que nascera dentro de mim.

 

Novembro

Fechar os olhos e ver os pensamentos

O mar está só... a luz está só...eu estou só

Todas as manhãs

Dou mais um passo para dentro de mim

Um dia acordarei enfastiado de novembro

Como se me faltasse a emoção da despedida

Sentirei o peso de um desejo

A alastrar pela sofreguidão da tarde

Um peso impossível de tocar com o coração…

 

Na consumação das minhas pálpebras

Brilham as cores

De um choro queimado pela brusquidão do céu...

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