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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Chove sobre os nossos olhos

Chove sobre os nossos olhos

Que dançam sobres as campas rasas

Ao som dos nossos crimes

 

Chove sobre as campas rasas

Que discretos olhos fazem céus

Chove sobre os nossos corpos rígidos

E sobre os nossos destinos emocionados

Destinos que pendem como frutos na árvore dos dias

E que caem sobre desertos alucinados

 

Chove sobre os nossos corpos inventados

Colocados nos ramos dessas árvores adormecidas

Em cores frias acordamos

Que ofuscados pelo tamanho das honras apodrecidas

Ostentando medalhas de mármore

Castanho...rosa…branco...negro...

 

Chove sobre os nossos corpos descarnados

Que perguntam pela nossa maresia

E pelo nosso corpo sem dentes e sem imagem

Qual foi a maldição fraternal que inventou a beleza?

Qual é o universo onde dançamos... imaginários?

Que afeição trabalha os cálculos impacientes?

Que fortuna imbecil reflete a nossa dança?

Que riscos não corremos para ouvir um espírito musical?

 

Ah! guerra fraternal de nós...

Ah! guerra fingida apreciada pelas crianças

Ah! japonesa de olhos rasgados que levanta voo pela colina

Ah! dupla razão de existir e de infletir

É sempre tempo de infletir... sem refletir...

É sempre tempo de enviar imagens de luz para o universo

Simples raios de luz que ficam a pairar na eternidade

Como olhos sufocados pela força dos lábios!

 

Sombras

Meu alfinete de peito aguçado e perigoso

Eivado de sombras subtis

Que dormem na quietude da espuma leitosa

Onde os montes cerrados de nevoeiro não logram alcançar

Muitos dias passarão...sobre a carne sangrada...sagrada

Outros fantasmas virão assombrar-me

Outra chuva me molhará os olhos secos

Outra música me carbonizará os sentidos

Outros abismos surgirão do fundo dos vulcões

Outras vozes...outros suores...outras grutas

Grutas fantásticas que explorarei

Grutas abissais e antigas

Que pontes suspensas no tempo suportarão...

Riso de louco

Rio como um louco que ri

Rio da dissecação da alma aflita

Rio da horripilante lágrima

Que débil tomba no prato vazio

Rio da decomposição das portas fechadas

Atravessadas por sussurros remotos

Ecoantes e pensativos

Como matinés enroladas em tédio

E cuja pele é coberta pela cintilação das sílabas mortas

Enquanto os maxilares mastigam silêncios...surdamente

E as palavras se decompõem rápidas e sem aroma

Por detrás de um ar distinto...

Abstração

Emergi do escuro como quem ocupa um espaço

Um espaço oblíquo entre os seios das silvas aguçadas

Olhei...ainda ninguém tirara os olhos da sombra do céu

E já eu descia a rampa que dá acesso aos homicídios

Vi a morte da noite...a morte do azul e de todas as cores

Vi a curva elíptica que forma o abismo florido

Vi os prados erguerem-se contra a colina de aço

Enquanto abraçava o rumor assobiante do vento

 

Obscuros clarões clamaram pelo meu nome

Mas eu não entrei no bosque

As pedras olharam-me ... caladas

De face negra e pontiaguda

E vi o seu drama no horizonte... sem horizonte

Doces estrelas do mar floriram num vaso de prata fina

Ergueram-se como as flores feitas de céu

E iluminaram novas estrelas

Senti a imensa agonia dos lagos estagnados...pútridos

Perante os olhos doces e estupefactos da Aurora

Ergui-me então nas minhas asas de falcão

E dancei no ar com as rolas brancas...

Olhos de todas as cores

Olhos de todas as cores espreitam a safira azul

Olhos de todos os tamanhos e feitios

Querem descer os degraus que dão acesso à mina

À mina sustida por barrotes encandeados de escuro.

Olhos de outra de época...funerários...aluados

Olhos apoiados na pedra

 

O mar que os olhos espreitam

Pelas fendas abertas no tabique

São olhos cegos pelas ondas brazeadas do mar 

E pelos seus brilhos de filigrana prateada

 

Olhos vorazes de amor

Que invadem a fonte de água gentil

De onde a água brota

Como se fosse um solo de Coltrane

 

Não te desnudes aos meus olhos

Esconde a parte misteriosa de ti

Para que a minha imaginação te possa sonhar

Para que a minha imaginação brinque em silêncio

Com um vago contentamento

Surda... à tua voz que não conheço...

 

Coluna de sábado - A bagagem de mão

A U.E. prepara-se para uniformizar a medida das malas  que se podem transportar na cabine do avião. E com esta medida, (certamente imposta pelo lobby da aviação) as actuais malas com (50x40x20) que se podiam levar na cabine, passam a pagar uma taxa ou então terão que ir no porão, uma vez que as novas medidas (40x30x15) que a U.E. quer implementar não são compatíveis com as medidas das  malas que hoje podemos levar na cabine. Mas a razão porque não se mantêm as medidas que estão em vigor só é compreensível à luz  de que as companhias de aviação pretenderem ganhar mais dinheiro taxando as bagagens, se por um lado até me parece justo que seja uniformizada a medida das bagagens, mas mantendo as actuais medidas. Quer dizer,  andou o passageiro a comprar malas mais pequenas para não ter que suportar a espera da saída e do despacho da bagagem, para agora, com esta padronização elas se tornarem obsoletas. E tudo isto se passa em Bruxelas, tão longe do comum passageiro, que nada pode fazer. Nada pode fazer, mesmo? Pode se tiver alguém que faça lobbying junto do parlamento europeu. Só que isso do lobbying é só para os mais poderosos fazerem implementar as leis que mais lhes convêm, não é para o pobre passageiro que viaja apertado nos bancos dos aviões. Para terminar, a U.E. diz que está a defender os interesses dos passageiros, quando na verdade está obrigá-los a despachar a bagagem no porão, ou em alternativa a pagar uma taxa que agora não paga pela mesma bagagem.

Adulação

Vejo as folhas das árvores a despertarem

Vejo fantasmas em cavalos negros

Que recolhem destroços vazios

E sombras repletas de lama

Mas...eis que levo os meus olhos

Para a praia onde brincam crianças

Indiferentes às hordas sub-humanas

 

Deslizo como fumo

Ao encontro dos mastros cobertos de negro

Vou ataviado com a verdade desesperada das lembranças

Dos caixões...das festas nocturnas...das lantejoulas negras

Vou montado num monstro espantosamente sincero

Florido...brilhante...sou o vento suão a galope

Sou um absurdo

Um miserável adorador dos indigentes

Ajoelhado perante a altiva palavra

Poesia...

Tributo a S. Jorge, Açores

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Imaginem um lugar onde não há crime. Um lugar onde as pessoas quase todas se conhecem. Os carros ficam com a porta destrancada e alguns até com o vidro descido. Ali renasce a nossa essência de seres livres. As paisagens são miragens reais. Tudo decorre num amplo verde e azul. Perfeito é este lugar. Perfeita é a maresia que delicia o mais profundo da alma. Há um mar puro e um perfume de café. Uma serra selvagem e um riacho que extasia. Os astros são gritos de luz na noite profunda. O sol que cai abraça-nos como se fosse um imenso amigo. As gentes são de riso fácil e aberto. Ali sentimo-nos vivos e inteiros. Persiste a existência de forças de outrora gravadas na lava negra. E quando o vento passa rente às flores desperta em nós a consciência de um tempo são. Sentimos que podíamos ter nascido ali. E que o espaço luminoso que nos abraça é feito de uma magia intemporal. Tradição, procissões, guitarras e acordéons, irmandade em cada destino. Ainda assim, é um mundo estranho para quem chega. Para quem chega carregado com um tempo de sombras. E cresce, cresce em nós, a altíssima natureza que ali criou um dos seus mais belos paraísos.

A ratoeira

« - Ai de mim - , disse o rato. - O mundo está a ficar cada dia mais pequeno. Ao princípio era tão grande que eu tinha medo, estava sempre a correr. a correr, e fiquei contente quando finalmente  vi paredes lá ao longe, à esquerda e à direita, mas estas longas paredes estreitaram-se tão depressa que eu agora estou já no último compartimento e ali, ao canto, está a ratoeira para a qual sou obrigado a correr. - Só precisas de mudar de direcção - , disse o gato, que logo o engoliu.»

Créditos - Franz Kafka

Estamos sós

Estamos sós

Profunda e desesperadamente sós

Somos tecidos no tear da solidão

Hilariantes como crianças

Inconfessáveis como longos desejos

Cheirando as ressonâncias da vida

 

Todos os dias são um penhasco rígido

Um novo sonho...uma nova aurora

Crescemos agarrados à gratidão do sol

Crescemos impressos em emoções

Juízos...tédios...obras de arte

Não compreendemos a grandeza da paciência

Nem a leveza inglória da claridade

Cheiramos levemente a vida...de longe

A vida que emana um forte odor

Mas não nos aproximamos dele

Temos medos...

Medo das aparências

Medo da grandeza do universo

Medo da inacessibilidade do tempo

E assim medramos… mirrados e inefáveis

Surpreendidos por escuras emoções

Somos árvores sangrando seiva vermelha

Cães com cio de vida...inconscientes

Aguardando o nascimento da hora do entendimento

Como quem espera um parto prolongado

Um parto que nos faça perceber

A nossa existência misteriosa...

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