De manhã levanto-me e vou ao rio espreitar os flamingos. Eles são o meu buraco no tempo. A minha flácida expressão de vida. A minha subterrânea vontade de me elevar no ar. E também são a (...)
Tudo guardo nos meus bolsos. As cidades. As metáforas. A anestesia dos dias. Sim...e os ressentimentos. Compreendo que não me valem de nada..mas não os quero enterrar num qualquer cemitério (...)
Atrás de mim...o longo hábito da tua sombra. Paciente...espero uma palavra. Um discernimento. Uma explosão de lusco-fusco. Atrás de mim...a cristalização das recordações. A silenciosa (...)
Falemos das coisas que nos embalam. Dos discos e dos livros. Dos matizes da escuridão. De um peixe vermelho a nadar num aquário de fumo. Por vezes ouvimos coisas. Acreditamos em coisas. Frases (...)
Sabemos tão pouco sobre nós. Sabemos tão pouco sobre os sentimentos. E sobre a nudez. E sobre as gotículas incipientes da chuva. E sobre os nossos amigos. Mas sentimos. Sentimos ternura. (...)
Amo as tempestades. Gosto de me sentar na falésia e aspirar os insultos do mar. Admiro a embriaguez despretensiosa das ondas. O pânico das rochas a desabarem. O escuro violento da nuvens. A (...)
A infância é a nossa porta para a vida. A nossa manhã feliz. A nossa emoção desconhecida. Também desconhecemos a subtileza das coisas. As nuvens negras. O crepúsculo distante. Na (...)
Que correntes nos prendem? Que aspirações abandonámos? Que névoa nos tolda o discernimento? Escassos perante o mundo. Sentados numa sala a ver definhar os dias...esmorecemos como a tarde que (...)
Construímos enfáticas estéticas. Cumprimentamos os privilégios e os privilegiados. Desvendamos os segredos das sínteses e das sintaxes. Procuramos ser o melhor dos mundos. Como pêndulos (...)
Fechei a porta. Colapsei. Senti-me um denso deus menor. As folhas da infância desvaneceram-se. A realidade era um frio debruçado sobre a luz gradativa da tarde. Aprendi a juntar as mãos. Os (...)