A aceitação do nada
A idade. A neblina. O outono. A força que já não é. A força que teima em abalar. A chuva já não é chuva. O vento que já não sente. O olhar é um silêncio de ramo quebrado. O corpo é um silêncio de olhar parado. O sofá. A televisão. O frio. A oscilação da fala. O cansaço feito de muitos outros cansaços. O saber. A respiração que se agarra a nós. Cansada de tanto respirar. Já não há calor. Nem marés cheias. Nem praias amenas. Há pele...apenas. O verão virá. A luz entrará no quarto. Quem sabe se ele ainda lá estará. Mas ele sabe quem já não é. Ele sabe que dorme sob a última luz. Da última lua. É visível a sua conformação. A sua sabedoria. A sua aceitação. Do nada.