A carnificina das palavras...
Na veia carnificada corre a mão
Que lança o sal sobre a simetria da morte
Na paisagem de pedra rodopia a madeira da memória
O coração respira como um gargalo fechado
Que se redime no galope pueril de uma queimadura
Lunares gargantas empinam-se no gelo de cada mão
O corpo é um remoinho perdido no enredo das ruas
A respiração corta a direito a largura dos precipícios
Dos olhos sai uma imagem cinematográfica
De sangue que levita no vácuo das pedras
O centro do vento afoga-se
As mãos explodem
As raízes entranham-se na leveza púrpura do caos
A carne expôe-se à luz
A órbita dos incêndios expande-se
A foice corta o abismo da paisagem
As ervas ostentam uma elegância hirsuta
É o verão a dormir nos seixos dos espelhos
A respirar pelos músculos da paisagem
A luzir na transparência dos aromas
Todas as coisas correm na torrente que me cerca
As frutas...a escuridão...a doçura profunda de uma luz...
Solar... de estrela esgotada.
Sobra o peso anestésico das metáforas
Sobra a constelação do sono
Sobra a zoológica riqueza de um abraço
A música...o brilho marmóreo
A aterradora substância da água fundida
E a tremenda pontada nas costas
O extravio angélico das catedrais
Que se dispersa no ritmo desordenado de uma boca.
Lentamente a matéria circula pelo interior oco dos nomes
Um sopro invade a transfusão dos gritos
Organismos remoinham nas pálpebras
A alucinação dos pulmões clama por mais memórias
Vocábulos tornam-se instrumentos de lembranças
Na massa de cada pão há uma prancha que respira fogo
O mundo é uma noite..de medo...de chuva..de insubstância
A descarregar paisagens...a beber-nos por dentro
Como um enredo de loucos a rejubilar numa textura de gás.