A chuva não fala
Lábios dentro de palavras
Letras dentro de páginas...respiração de livros
Âncora de carne
Onde se abrigam as vozes do mundo
Areias que embatem na respiração das ondas
Infiltrantes compassos de rocha alada
Arrancados torrões de terras distantes
Bosques sentados em serranias sagradas
Lábios nas letras...respiração suave
Ébrios destinos de pessoas epidérmicas
Alma apocalíptica vivendo numa visão
Chovem corpos em uníssonas respirações
Mas a chuva não fala...a respiração não emite raios
O céu é liso...rabiscado de nuvens
Deflagram peles de seda sobre a areia
Abrigamo-nos nas margens expostas do rio
Sentimos a crispação Divina sentada sobre a nossa epiderme
Renascemos do medo de tudo se esvair
Arrancamos bocados de terra da boca das pessoas
Gritamos em uníssono
Somos a visão da rocha, da árvore,da carne exangue
Somos o abrigo de todas as coisas
Para além de nós não há mundo
Nem machado que corte a respiração
Somos a imensa criação do mistério
Aflição de água convertida em corpo
Choveremos...subiremos a todas as hastes dos girassóis
Seremos ondulantes véus...
Escarlates autores de uma nova asfixia
Crisparemos as bocas...seremos nós mesmos!