A folha que cai do coração
A abrupta linha do vazio constrói-se num hiato que vai da alma à carne. A luz é uma violência que ocupa a nossa identidade. O espaço que vai do tempo ao corpo é um adorno. Uma pulseira que carregamos junto aos lábios. Os sentidos vivem entre nós e as sombras. Os sentidos são ao mesmo tempo o território da luz. A nossa presença frente ao opaco dos espelhos. É semelhante a um tempo transparente e transcendente. Concentrado em si o Homem bebe as feridas do ar. E enquanto chama pela candeia que tem a luz às avessas ocupa a vulnerável margem das palavras. Belisca a aparência contraditória dos céus. E cria imagens de áridos mares na fala das tempestades. Esse Homem é uma excêntrica raiz. Um risco na vegetação das ruas. E é ao mesmo tempo a folha que lhe cai do coração.