A noite é pouca para tantas dúvidas
Digamos no silêncio o que não temos coragem de dizer
Encontremos o sossego na paz das coisas que não dizemos
Fogo e brisa...relento e desejo...
Caudal de gelo a consumir o fogo
Olhos de séculos a abraçar fantasmas
É preciso dar um nome à ternura que não damos
É preciso soltar as amarras que nos prendem ao chão insano dos dias
E quem não pode mais...que pouse os braços e siga...como um mortal sem tempo
Ou como uns braços que não abraçam.
A noite é pouca para tantas dúvidas
Os caminhos são tantos para tão pouca luz
No regaço branco dos desertos conhecemos as saudades que não sentimos
Na intemporalidade desponta a ingratidão da vida
Nas gavetas dormem retratos de vidas e de bolor
Caras que se desfizeram...sopros que se fecharam
E ao mesmo tempo... tanta coisa inútil a chamar por nós
Tanto crer...tanto desacreditar...
Que até chegamos a dizer que nos abismos nasce a vida.
Inventar...é o que precisamos
Dizer que já não nos queremos lembrar de nós
Dizer que queremos ser outro...que queremos sentir que somos outro
Que despontamos com o azul que nasce dentro de nós
E depois...não há amarras...já nada nos prende aos nossos fantasmas
Tudo o que havia para ser...fomos...não fomos...ficámos...partimos...existimos...existindo
E por entre a chama que se desprende da nossa alma
Sopramos para dentro de nós o temporal que nos assola
Perante o rubro vigor dos dias...criamos longínquos sonhos
Impossíveis soluços desprendem-se do mar que nos visita
E através da espessa neblina que se ergue em nós
Sabemos que é inútil carregar a vida
Como se ela fosse um caminho que vai desembocar numa subida...íngreme
Sem música e sem sol
Apenas como um espinho... que em desvario...
Resolveu fazer-nos rir...rir...rir...rir...