Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

A outra dimensão da realidade

J. Agee, uma noite é convidado por um homem a abrigar-se de uma tempestade numa quinta de uma família pobre do Alabama. Entra numa sala escura, mal iluminada por um candeeiro de petróleo. O homem e a mulher sentam-se junto da chaminé, as crianças estão no chão ou em cima da cama.A filha mais velha do casal, Louise, tem ao colo o mais novo, um bebé.O pai não faz qualquer apresentação, nem qualquer conversa é obrigatória.O tempo passa enquanto a chuva cai.Agee deixa-se embalar pelo silêncio e por uma solenidade tranquila, a que não está habituado.De tempos a tempos uma palavra anódina rompe a espessura do silêncio, sem encontrar eco.De repente, Agee e Louise trocam um olhar e a cumplicidade nasce de imediato. O escritor toma a consciência de que a adolescente não tirou os olhos dele, desde a sua chegada, e fica incomodado com o facto.Os olhares prendem-se discretamente entre si.Para dissipar o mal estar Agee sorri.O olhar de Agee expressa tudo o que sentia por ela, tudo o que lhe poderia dizer, durante horas, se as palavras pudessem dizer tudo, e tudo isso se reunia no seu olhar, e voltava cabeça e lançava os olhos sobre os olhos dela e ficaram ali sentados com uma vibração crescente entre os dois que o deixava meio inconsciente. A chuva abranda,Agee levanta-se, não foi trocada qualquer frase. Houve um reconhecimento mútuo, preso a um momento precioso,numa outra dimensão da realidade.Conto extraído do livro de David Le Breton - Do Silêncio.

2 comentários

Comentar post