A paisagem inclina-se sob o peso dos tempos
A paisagem inclina-se sob o peso dos tempos...puxamos a jangada como cavalos cegos
O mar nunca regressa...os pés curvam-se num desespero de instantes...bebemos lugares
Sonhei que me salvava dentro de um sopro...escondido numa rocha aquárica...
Tropel de fumo escalando as árvores...rumor de aves dentro da bebida...cascos de noites
Afundam-se os olhos no escuro...o Atlântico sopra furacões ...perdemos o pé...
Esquecemos o lugar onde temos o barco...desgastamos as fronteiras..sonhos sem lugar
O escuro desvenda as suas histórias...ouvimos os mortos quebrados pelas noites...
Barcos...gáveas...corais...dentes girando na boca...olhos de águas negras...chove...
As areias afastam-se de nós..vão ao encontro de outros lugares...escuto vozes...
Desenho arabescos nas árvores ensanguentadas...viscoso líquido alvar...afogo-me
Molho-me de entusiasmo...como erva..suco de azedas selvagens...amarelas...
Das minhas noites emergem grandes cavalos selvagens...o meu ventre segreda histórias
Abençoo a loucura que medita sobre um pedestal de ossos caídos...esburacados...
Não quero perder o meu lugar...sou o instante em que os cascos saltam sôfregos...
Bebem fumos...afogam-se em todos os mares...
Rio-me do escuro onde sobressaem grandes dentes de marfim...fumo a minha bebida
Bebo o meu fumo...a Terra gira...o fogo ama-me...o chão abre-se..
Mostra-me as suas maravilhas... Alice permanece no escuro...perdeu os olhos...
É agora uma enorme ave que me sonha...encerra a minha alma numa concha de ostra...
Sou uma visão apocalíptica...um sopro incomensurável...nunca mais regressarei!