A praia
Os pés descalços assentes no chão. A alma em contacto com o mundo. O céu espia-nos com o seu desdém. As nuvens executam danças cruciais. Cerúleas. Abruptamente ganhamos interesse em qualquer coisa. Algo desperta em nós. Apoiamos o queixo nas mãos. Fingimos. Vemos o mar com um olhar complacente. Perdido. Brincamos com a areia. Somos areia escorrendo pelas nossas mãos. Amuamos. Vem uma névoa de néon. Um perfume de maresia espalha-se pela bruma. Ignoramos o livro que levámos para não ler. Ou tão só para nos acompanhar. Ignorando o tempo... caímos no desequilíbrio das dunas. Além...uma vela. Aqui um cão a correr. Um corpo reluzente. Um creme desdenhoso. E também o estampido monocórdico da tarde. Aproveitamos para pensar. Ou para não pensar. É importante fazer parte do silêncio interior. Há uma roda viva de gaivotas. Um caleidoscópio de toalhas coloridas. Chegam-nos miniaturas de ventos e excêntricas marés. E de súbito...emergimos...para a luminosidade fascinante de um sonho. Caído da realidade.