A roda lírica...
Entrar. Nessa evidente inutilidade de nos reconhecermos em alguma coisa. O absurdo do inútil é que a idade não toca na nossa porta. Chega. Entra. Senta-se. E vamos caindo como quem aperta as mãos ao dia. Como quem cumprimenta os pontapés que as horas nos trazem. Simbólica dissolução. O evidente chicotear da luz a marcar o nosso compasso. A nossa cegueira a galgar a espera da nossa noite. A enganar-nos. Ao nosso lado...ruas e janelas e espelhos. Tudo feito de um vidro embaciado. A nossa extinção caminha connosco. Senta-se connosco. Pobres de nós a olhar de esguelha o que desconhecemos. A distrair o olhar pelo brilho ofuscante das nossas preocupações. A vida a extinguir-se nesta roda lírica. Condição de nós. Ebulição de sangue. A nossa força de vontade a ofuscar a trama dos dias. Um minuto. A vaidade. O jogo do parecer. O jugo do perecer. E tantos que já passaram pela mesma porta. E tantos que já desapareceram nessa porta entreaberta. E de um momento para o outro...a luz. A euforia. A esperança. A condição de caminhar. A direcção que não tem direcção. E...apoiados nessa bengala de ilusão....saltamos os abismos. E vamos em frente. Sem contar os degraus. Sem contar a ninguém. Sem contar com os impossíveis. Rodamos. Rondamos. Acenamos. E crentes seguimos pelas margens de nós.