A serra da idade
Delirantemente escalo a serra da idade
Rumo a uma velhice enfastiada
Já só me restam os rabiscos que o tempo deixa recordar.
Com a erudição do inevitável definhar
O passar do tempo foi como uma esponja invisível
Que apagou os contornos do real
Tornando-me uma paródia grotesca de mim
Como uma carta desconhecida
Inserida no baralho interior da minha alma
Algo que se foi infundindo taciturnamente
Como uma espécie de vida
Apenas o som da minha voz é autêntico.
Cravado na alma do tempo infinito
Tenho um espinho que infecta de saudade,
Os elementos orgânicos a apodrecer no meu corpo
Exalam cheiros venenosos que profetizam inquietação.
Percorri de uma enfiada as salas onde me deixaram entrar
Como numa quimera feita de asco e falta de paciência
Atingi a estagnação plangente das contas feitas com a vida
E a soma mostrou-me a regra de que nada vale a pena
A vida é estigma feito de insanidade
Uma chaga cravada nos dias que exalam um odor infecto