A solidão está gasta
E mesmo que corra toda a cidade
A procurar a tua mão
E mesmo que a queimadura que me invade
Se disfarce de tédio
E mesmo que esgravate na tua ausência
Todos os momentos que fomos
Sei que as minhas forças se dispersam por outros lugares
Sei que os meus lábios já não se aconchegam
Na fissura ambígua dos teus ombros
Sei que há um veneno
Sedento do sangue acre que se dispersa pelas ruas
E depois...
Também sei que a solidão está gasta
E mesmo que a memória se corte na lâmina do passado
Nada trará de volta...
O corpo...o sangue a ferver
O fascínio das visões tatuadas na pele
As certezas de que os sonhos
Ainda vivem na boca das flores
E nós..distantes..a avançar mar adentro
A afiar a a secura das vagas
A saber que a saliva é um veludo
Sobre a pele seca dos sargaços
Talvez ainda nos restem ilhas distantes
Areias desesperadas nas praias onde não fomos
Talvez o mar se torne sonâmbulo
E durma connosco na dilaceração das noites
Talvez os sonhos se tornem sagrados
E a lua se aproxime da chuva
Que cai no sangramento dos dias
E uma e outra vez as imagens vêm
As feridas retiram-se...os corpos adormecem
Plenos...como fotografias tirada sob uma luz extasiada
Ou como pequenas tatuagens de estrelas
Que se vêem em firmamentos de aflição...
E nós...sós
Completamente absortos...sedentos
Da tragédia do Homem.