A todos um bom Natal
É preciso pensar. É preciso olhar em frente. É preciso ver a tarde e a rede que se agita ao vento. É preciso olhar de frente a claridade dos espelhos. Mergulhar no tempo febril. Buscar o vão que há na vida. É preciso pensar no que é obscuro. No que é baço e vazio. Na treva rubra do silêncio. É preciso olhar de frente a clara luz refletida na areia. O rosto reflectido na brancura dos muros. O perfume recto do pranto. É preciso pensar. Nas portas que nos rodeiam. Na consciência das grutas onde o tempo se esconde. É preciso olhar de frente as ausências. Fechar o tempo em pequenos quartos. Dobrar os cabos. Ausentar-se dos lugares antigos. Dos sentimentos antigos. Esquecer o súbito primeiro passo. O passo que nos trás a saudade. É preciso voltar e não voltar. É preciso conhecer a rebentação das vagas. A impetuosa corrente dos rios. A longa estrada e a sagrada poesia escondida na orla do nevoeiro. É preciso olhar de frente. Os temporais. Respirar os temporais. Escutar as sombras da maresia. É preciso percorrer a escuridão e a secura das terras. Sentir a sede das paredes caiadas. Olhar de frente a púrpura luz do vazio. É preciso desenhar sóis na aspereza das almas. Enfrentar as caóticas cidades. Renascer em todas as horas. Nas tardias e nas matinais. Mas...renascer sempre. É preciso ascender aos cânticos das gargantas roucas. Permanecer na imanência dos segredos. Ascender à alucinação das coisas. Dominar os desertos. Ser puro como as planícies. Ser a espora com que se espicaça a vida. Conhecer a medida do infinito. E ser...a imagem pura de um eco habitado por fantasmas. Para...sem medo dos átrios sombrios...esculpir a vida. Aceitar o brilho saturado de desânimos. E erguer-se no canteiro...onde floresce o pasmo de se estar vivo.
A todos um bom Natal