A velha oliveira
Se eu quiser chorar até encher os lagos
Com lágrimas feitas de incenso
Talvez os nevoentos abismos se inflamem
E despertem em salivas de doçura
Mas há caminhos onde o asfalto
Irradia a sua negrura intemporal
Como se nós fôssemos aves medonhas
Rugindo sobre cidades turvas.
Separam-se os corpos
E as lamas invadem as memórias
Curvamos o mundo
Dobramo-lo em suaves reflexos prateados
Consumindo-o para além de todas as luminescências das marés
Deixa-me abraçar esse mundo em crisálida
Deixa-me voar na chama alucinada de uma cartomante
Deixa-me deitar nas labaredas que decoram os tronos antigos
Assumo que sou um louco feito de marés
Onde se escrevem naufrágios com letras de perdição
Que ando descalço só para perceber a terra
Que ardo num tempo onde os desertos desembocam
E que suspendo o meu sorriso numa velha oliveira.